Do Bric ao Brics
21/07/2014 17:24
O economista Jim O´Neil criou a sigla em 2001. Formou-a com a letra inicial de quatro países em desenvolvimento — Brasil, Rússia, Índia e China. Dez anos depois, A África do Sul (South Africa) entrou no clube. Assim, o primitivo Bric virou Brics. Ops! Armou-se o tumulto. Muitos interpretam o s como signo de plural. Bobeiam. É o representante do quinto sócio.
Está na cara, não? Com mais de 3 bilhões de consumidores, o Brics entra no time dos blocos mais poderosos do mundo. Sucesso pra ele.
As Farc
Outra sigla que dá nó em fumaça? É Farc. Sem acabar em s, a danadinha é plural. Por quê? Trata-se das letras iniciais de Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Forças é plural. Eis por que dizemos as Farc, das Farc, nas Farc: O Brasil se nega a classificar as Farc de grupo terrorista. Muitos colombianos têm medo das Farc. Fala-se muito nas Farc.
Castigo dos céus
O maior nó da língua portuguesa? É o emprego do hífen. São tantas regras e tantas exceções que nem Deus é capaz de memorizá-las. Dúvidas e dúvidas invadem a cabeça dos falantes do português nosso de todos os dias. Entre eles, o mineiro Afonso Delfim. "O que fazer?", pergunta ele. Só há uma saída: visitar as obras de consulta. Dicionários e gramáticas estão às ordens — loucos pra receber uma visitinha. Vá lá.
Tem ou não tem?
A língua é viva? Vivíssima. Além de mudar sem cerimônia, adora a lei do menor esforço. Com ela, menor é melhor. Palavras grandonas dão preguiça. O que a danadinha faz? Apela pras reduções. É o caso de abreviaturas e siglas. Em vez de apartamento, prefere ap. Em lugar de professor, prof. De página, p. ou pág. Siglas também contribuem pra alimentar o bem-bom. Polícia Militar vira PM; centro de terapia intensiva, CTI; Departamento de Trânsito, Detran.
Pensando nisso, uma questão pintou na cabeça de Adenílson Fonseca. Trata-se de hortifrúti, redução de hortifrutigranjeiro. A pequena tem acento ou não tem? Tem. Hortifrúti joga no time de táxi e ímã. Paroxítona terminada em i, exige o grampinho. Sem ele, vira oxítona como tupi, guarani, aqui e ali. Nada feito.
Susto no trânsito
Marta vai de carro pro trabalho. Até chegar ao destino, enfrenta um senhor trânsito. Mas não se estressa. Liga o rádio e ouve música ou notícias. Na terça, não foi diferente. A rotina parecia se repetir. Mas comentário de Dan Stulbach na CBN a deixou de cabelo em pé. Ao homenagear cidades espalhadas por esta Pindorama tropical, o ator falou em aniversariantes "do" Goiás e "do" Pernambuco.
Ops! Por pouco a pobre ouvinte não bateu no carro da frente. É que Goiás e Pernambuco são estados solteirinhos convictos. Não aceitam, nem a pedido dos deuses do Olimpo, aliança no anular esquerdo. Por isso dispensam o artigo. Livres e soltos, circulam sem companhias indesejadas: Goiás fica no Centro-Oeste. Nasci em Goiás. Ele chegou de Goiás. Você conhece Goiás? Os holandeses invadiram Pernambuco. Trabalho em Pernambuco. Mudou-se para Pernambuco.
Leitor pergunta
Uma questão me rouba horas preciosas de sono. Trata-se da preposição perante. Com indesejável frequência, leio frases como esta: "Apresentou-se perante ao juiz". A construção me soa mal. No caso, duas preposições juntas pisam a gramática. Ou não?
Nadir Alves Pereira, lugar incerto
Você tem razão, Nadir. Alguém se apresenta perante o juiz. Maria se apresentou perante o professor. Falou sem constrangimento perante público de 10 mil pessoas.