Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Pega na mentira

01/04/2015 16:48

Mentira? "É a verdade que não soube encontrar sua ocasião", disse Raul de Leoni. "É uma verdade que se esqueceu de acontecer", emendou Mário Quintana. E completou: "É a verdade que enlouqueceu". Machado de Assis a considera tão involuntária quanto a respiração. Seja lá o que for, seja lá o que a motive, a mentira faz parte do cotidiano.

Daí por que o povo sabido lhe dedica uma data especial. É hoje. Como todas as datas comemorativas, a efeméride tem pedigree. Nome próprio, escreve-se com as letras iniciais grandonas: Dia da Mentira, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia da Pátria, Dia da Criança, Dia dos Namorados. Ufa!

Memória de elefante
O que faz o mentiroso? Mente. Há quem diga que o inventor de histórias tem perna curta. Rapidinho se denuncia. Não falta quem discorde. Ele só mancará se lhe faltar memória. Será? Pelo sim, pelo não, vale relembar a conjugação do verbo mentir. Irregular, ele joga no time de preferir. Na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, troca o e pelo i. A mudança aparece no filhote presente do subjuntivo: minto, mente, mentimos, mentem; que eu minta, ele minta, nós mintamos, eles mintam. No mais, o enganador se flexiona como os irmãozinhos da 3ª conjugação -- menti, mentiria, mentirão.

Duas vítimas
Duas abreviaturas sofrem mais que pacientes do SUS. Uma é a forma preguiçosa de apartamento. Bastam duas letras pra dar o recado — ap. Mas muitos insistem em lhe acrescentar peso indesejável. Xô, satanás! A outra é a redução de professor. Prof. é a pequenina nota 10. O feminino ganha um azinho indicador do gênero (profª). O masculino não tem nada com isso.

Menor é melhor
Fim de semana? Final de semana? Ambas as formas merecem nota 10. A preferível? No estilo contemporâneo, menor é melhor. Fico com fim de semana. E você?

Como se diz?

Tóxico pertence à equipe de táxi. O xis de ambas as palavras se pronuncia do mesmo jeitinho. Os derivados vão atrás: taxista, taxímetro, intoxicar, antitóxico.

Antes da vírgula
Manchete do Correio Braziliense de segunda-feira: "1,2 milhão vai perder o emprego até o fim do ano". Leitores protestaram. Choveram e-mails e telefonemas. "O verbo não deveria estar no plural?", perguntavam todos. A resposta: não. O verbo concorda com o número que está antes da vírgula. No caso, 1 — singular. Eis exemplos: 0,45 milhão, 1,87 bilhão, 2,35 milhões, 400,2 trilhões.

Marido e mulher
Jovem casal discutia no caixa da padaria. O pomo da discórdia: o diminutivo de moto. É motinho ou motinha? Ele ficou com a primeira forma. Ela, com a segunda. E daí? Sem acordo, a dupla entrou em contato com a coluna. Bem-vinda. Trata-se de manha do diminutivo. Moto pode recorrer a dois sufixos. Um: inho (a motinho). O outro: zinho (a motozinha).

Percebeu a malandragem? Inho e –zinho se comportam de modo diferente. Inho se liga diretamente ao radical e mantém a última vogal da palavra (moto, motinho). Zinho acrescenta a letra z ao radical. Aí, recorre à vogal que marca o gênero da palavra. No caso, o feminino (a moto, a motinha).

Foto e moto

Foto segue a manha de moto: a fotinho, a fotozinha.

Leitor pergunta

Pôr do sol? Pôr-do-sol? Ora vejo o trio escrito com hífen. Ora sem hífen. Pode me tirar a dúvida?
Carmem Alves, BH

Pôr do sol pertence à turma de pé de moleque, mão de obra, dor de cotovelo, mula sem cabeça. A reforma ortográfica lhes cassou o hífen. Agora, livres e soltas, elas formam o plural do mesmo jeitinho. Só o primeiro nome se flexiona: pores do sol, pés de moleque, dores de cotovelo, mulas sem cabeça.

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