Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Janene morreu? Cadê prova?

25/05/2015 10:50

Macabro? O adjetivo causa arrepios. Quer dizer fúnebre. Mas nós o associamos a sombrio, assustador, tétrico, horripilante. Ninguém sabe ao certo o berço da palavra. Há quem diga que vem do árabe. Mas a maior parte dos estudiosos aposta no francês. No século 18, a obra Dance macabre, pra lá de popular na Europa, representava a morte. A alegoria inspirou-se no martírio dos irmãos Macabeus, descrita no Antigo testamento.

O vocábulo veio à tona na quarta-feira. Na CPI da Petrobras, pintou a suspeita de que José Janene teria forjado a morte. O corpo enterrado não seria o dele. Talvez nem houvesse corpo. O ex-deputado estaria no bem-bom gastando bilhões da corrupção em praia do Caribe. Pelo sim, pelo não, o corpo seria exumado. Em português claro: seria desenterrado. Alguma semelhança com a ficção? O comendador, da novela Império, responde.

Puxão de orelhas
O repórter escreveu por do sol. Bobeou. O revisor não viu. Leitores atentos se deram conta do descuido. Entre eles, Flatônio José da Silva. Eis a correção: "A reforma ortográfica manteve dois acentos diferenciais. Um: pôde. O chapéu distingue o passado do presente de poder (ontem ele pôde, hoje não pode). O outro: pôr. O monossílabo diferencia o tônico verbo pôr da átona preposição por: Dá pra pôr algumas obras por aí? Dizem que Brasília tem o mais belo pôr do sol do Brasil.

Por que citar?
"Costumo recorrer, nos meus artigos de jornal, a citações frequentes, não apenas como adorno do texto, mas como apoio. A citação nada mais é, por vezes, do que um pensamento coincidente, indicativo de que outro escritor, antes de nós, pensou o que também pensamos — e lhe deu força, com a vantagem da precedência. A concordância, nesses casos, obriga à citação, com o destaque do texto alheio e a indicação da autoria respectiva." (Josué Montello).

Filho de peixe
O verbo da moda? É reaver. Com a Operação Lava-Jato, dólares da corrupção depositados no exterior voltaram para o Brasil. Viva! Que venham muitos, muitos mais. A recuperação do dinheiro virou manchete. Muitos escreveram "reaviu". Cochilaram. Pra conjugar o trissílabo como manda a gramática, a informação da paternidade é pra lá de bem-vinda.

Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar. O danado tem um grande defeito. É preguiçoso que só. Por isso, joga no time dos defectivos. Não tem todas as pessoas, tempos e modos. Ele só se conjuga nas formas em que aparece o v, de haver. No presente do indicativo, apenas o nós e o vós têm vez: reavemos, reaveis.

O indolente não tem o presente do subjuntivo (seria reaja, sem o v). Mas exibe o passado e o futuro completinhos: reouve, reouves, reouve, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavia, reavíamos, reaviam; reaverei, reaverás, reaverá, reaveremos, reaverão; reaveria, reaverias, reaveveríamos, reaveriam; reouver, reouveres, reouvermos, reouverem; reouvesse, reouvesses, reouvéssemos, reouvessem.

Em ação
Exemplos? Ei-los: Maria reouve as joias roubadas. Ela reavia as fichas do jogo. Ainda reaverei os pontinhos perdidos na prova. Quando reouver o dinheiro, Maria vai depositá-lo no bando. Se eu reouvesse minha herança, faria bela viagem pelos cinco continentes.

Tentações
Abra os olhos. Reavê, reaviu, reaveja não existem. Seriam derivados de ver. Reaver vem de haver. Mas não fique triste. Eles não fazem falta. Recuperar e recobrar os substituem pra lá de bem.

Leitor pergunta

Gostaria de saber a classe gramatical da palavra "velho" nas seguintes frases: a) João é um velho amigo. b) João é um amigo velho.

Marise Cruz Galdino, Brasília


Em ambas as frase, Marise, velho é adjetivo: restringe o substantivo amigo. A colocação lhe muda o sentido. Velho amigo é amigo antigo, do peito. Amigo velho, amigo idoso.

Outros adjetivos mudam de sentido segundo a colocação. É o caso de novo e grande. Compare:

Comprei um carro novo. (Comprei um carro zero.)

Comprei um novo carro. (Comprei outro carro, não necessariamente zero.)

Napoleão tinha 1,50m. Mas foi um grande homem.

Golias tinha mais de 2m. Era um homem grande.

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