Novos tempos, novos textos
25/01/2016 10:53
Dad Squarisi
Se todo mundo escreve, normas de convivência se impõem. A primeira: dar chance a todos. Nosso maior luxo é o tempo. Respeitar os minutos dos outros pega bem como dar bom-dia ao entrar no elevador, usar cinto de segurança, observar a faixa de pedestres. Chegar lá é fácil como andar pra frente. Basta seguir as duas regras de ouro:
Menor é melhor
Textos curtos — nunca maiores que uma tela do celular. Ultrapassar esse limite acende o sinal vermelho. O receptor passa os olhos sem ler. A mensagem não chega. A comunicação fracassa.
Menos é mais
A parcimônia do pai mineiro se impõe na cultura digital. “Não saia”, diz ele ao filho. “Se sair, não gaste. Se gastar, não pague. Se pagar, pague só a sua.” Em grupos de WhatsApp, não escreva se não tiver algo coletivo importante a comunicar. Se escrever, escreva só um texto. Se postar fotos, poste a que interessa ao maior número de pessoas. O mesmo vale para vídeos e áudios. Temas particulares podem ser tratados em contatos particulares. Aí, deite e role.
Conclusão
WhatsApp é como sobremesa gostosa. Cai bem como a oferecida aos deuses. Mas, se a comemos no café da manhã, no almoço, no jantar, todos os dias, semana após semana, ops! Ninguém merece. Melhor ficar com o gosto de quero mais. Abusar é proibido.
Economia verbal
João vendia peixe no mercado da cidade. Oferecia produto tão bom que a clientela crescia dia a dia. Decidiu, então, aumentar as vendas. Como? Exibiu uma faixa com estes dizeres: “Hoje vendo peixe fresco”. Feliz, chamou um amigo pra comentar a iniciativa. O homem olhou, pensou, tornou a olhar e, por fim, perguntou:
— Você vende peixe velho?
— Não.
— Então, fresco sobra.
João fez outra faixa sem o adjetivo: “Hoje vendo peixe”. Consultado, o amigo questionou:
— Você vende peixe num dia e no seguinte outro produto? Não? Então, hoje sobra.
A nova faixa “Vendo peixe” mereceu esta observação:
— Você dá, aluga ou empresta peixe? Não? Então, o verbo sobra.
O texto ficou reduzido a uma só palavra — “Peixe”. O orgulhoso comerciante não tinha dúvida. Havia chegado à forma definitiva, capaz de multiplicar a conta bancária:
— E agora? Não há mais nada a cortar.
— Ora, quem passa por aqui vê os peixes expostos. Pra que a faixa?
Leitor pergunta
Sou leitor pra lá de atento. Além da notícia, presto atenção à língua. Outro dia, li no editorial do jornal a frase “Acaba logo, 2015”. Pintou a dúvida. Não deveria ser “Acabe logo, 2015”? Logo depois, bati o olho em hastag criada por Galvão Bueno. “Vai que é sua, Taffarel”. O texto me deu nó nos miolos. Com razão?
Dirceu Capanema, BH
Ambos os exemplos tratam do imperativo. A forma que dá ordens é cheia de manhas e artimanhas. Uma delas se refere à formação. No imperativo afirmativo, a segunda pessoa (tu e vós) tem tratamento privilegiado. Sai do presente do indicativo. Com um pormenor: sem o s final. As demais pessoas nascem do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr. Assim:
Presente do indicativo: eu acabo, tu acabas, ele acaba, nós acabamos, vós acabais, eles acabam
Presente do subjuntivo: que eu acabe, tu acabes, ele acabe, nós acabemos, vós acabeis, eles acabem
Imperativo afirmativo: acaba (tu), acabe (você), acabemos (nós), acabai (vós), acabem (vocês)
***
O imperativo negativo joga no time da simplicidade. Forma-se só do presente do subjuntivo. Deste jeitinho: não acabes (tu), não acabe (você), não acabemos (nós), não acabeis (vós), não acabem (eles).
***
Galvão Bueno misturou pessoas. Vai (tu) que é sua (você). Não vale. Na norma culta, fica-se com uma ou outra: Vai que é tua, Taffarel. Vá que é sua, Taffarel.