Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Orações adverbiais jogam no time dos adjuntos adverbiais

20/02/2017 09:00 | Atualização: 14/02/2017 10:20

Dad Squarisi

Recado
“Uma história se conta, não se explica.”
Jorge Amado

Pausas e manhas (7)

Água parada apodrece. A frase sabe disso. Por isso foge da pasmaceira e se movimenta. Cada termo tem o seu lugar. A ordem direta, como visto na coluna anterior, obedece a esta sequência: sujeito, verbo, objeto, adjunto adverbial. A vírgula não tem vez se a oração estiver na ordem direta e não aparecerem termos coordenados ou explicativos:

*Poucos estudantes (sujeito) alcançaram (verbo) nota mil (objeto) na redação do Enem (adj. adverbial).

Embora tenham lugar definido, os termos passeiam na frase. Em vez de “cada macaco no seu galho”, preferem “cada macaco no meu galho”. E lá vão eles trocando de lugar. O deslocamento tem preço. O arteiro fica entre vírgulas. É o caso do adjunto adverbial:

Na redação do Enem, poucos estudantes alcançaram nota mil.
Poucos estudantes, na redação do Enem, alcançaram nota mil.
Poucos estudantes alcançaram, na redação do Enem, nota mil.

Oração adverbial

As orações adverbiais jogam no time dos adjuntos adverbiais. Quando vêm depois da oração principal, estão no lugar delas. Nada de vírgula:

O ministro morreu porque estava no avião que caiu.
Ele trabalha muito para ter uma velhice tranquila.
O estudante fazia a prova quando se sentiu mal.
As provas foram aplicadas na escola conforme foi combinado.


Se mudarem de lugar, entram no time dos deslocados. Usurpam a casa dos outros. Vírgula, pois:

Porque estava no avião que caiu, o ministro morreu.
O ministro, porque estava no avião, morreu.
*
Para ter uma velhice tranquila, ele trabalha muito.
Ele, para ter uma velhice tranquila, trabalha muito.
*
Quando se sentiu mal, o estudante fazia a prova.
O estudante, quando se sentiu mal, fazia a prova.
            *
Conforme foi combinado, as provas foram aplicadas na escola.
As provas, conforme foi combinado, foram aplicadas na escola.

Frasecídio

Na língua como na vida, nem todos são iguais perante a lei. Existem os mais iguais. Os privilegiados são o sujeito e o predicado. Mesmo deslocados, eles ficam livres e soltos. É proibido isolá-los. Separá-los por vírgula tem nome. É frasecídio. Aprecie a desenvoltura:

Maria (sujeito) estudou (verbo) a lição (objeto) no cursinho (adj. adverbial).
Estudou Maria a lição no cursinho.
Maria a lição no cursinho estudou.
*
Maria (sujeito) é (verbo) estudiosa (predicativo).
Estudiosa é Maria.
Maria estudiosa é.

Superdica
Você pode perguntar: os termos intercalados separam o sujeito do verbo? A resposta é não. Eles são intercalados. Ao ficar entre vírgulas, isolam-se. Deixam o sujeito distante, mas ligado ao predicado. Compare:
Maria estudou a lição no cursinho.
Maria, no cursinho, estudou a lição.

Sem bobeira
Olho vivo! Se você puser uma vírgula e deixar a outra pra lá, aí sim comete frasecídio. É importante isolar o perigoso adjunto adverbial. Veja dois exemplos do cruz-credo:
Maria, no cursinho estudou a lição.
Maria no cursinho, estudou a lição.

Leitor pergunta

Li no Correio Braziliense: “Eram por volta das 13h quando pai, mãe e o filho de 6 anos seguiram para o distrito de Girassol”. A concordância do verbo ser está correta?
Leonardo F. Bicalho, Brasília

A concordância do verbo ser é cheia de ciladas. O verbo pode concordar:
1. com o sujeito: Tudo é flores.
2. com o predicativo: Tudo são flores.
Pode, também, ser impessoal. Sem sujeito, concorda com o predicativo. É o caso da designação de horas, datas, distâncias: É meio-dia. Eram 3h30. Hoje são 25 de janeiro. De Brasília a Goiânia são 200 quilômetros.
Ops! Aí a porca torce o rabo. Precedido das expressões perto de, cerca de & cia., é possível também a concordância no singular: Eram por volta de 13h. Era por volta de 13h. Eram cerca de 13h. Era cerca de 13h.



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