O vocábulo bateu asas. Andou por diversas línguas. Chegou a nós pelo francês. Daí para significar charme, encanto pessoal, magnetismo foi um salto. Em português, a pronúncia é glamur. O adjetivo se escreve glamouroso ou glamoroso. Você escolhe.
No salão de beleza
As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras na conversa sem fim. Aí, não dá outra. Quanto maior o contato, maior a influência e os empréstimos. No século 19, o interlocutor de prestígio morava em Paris. O chique era tocar piano e…falar francês.Com livre circulação na diplomacia, na etiqueta e na moda, o idioma de Descartes frequenta com desenvoltura o mundo da beleza. Centenas de vocábulos bateram à porta do dicionário. Um deles: maquiagem. Ou maquilagem? Tanto faz. Um e outro realçam pele, olhos, lábios. Seduzem.
Maquiar
Maquilar ou maquiar? Escolha. A alternativa é acertar ou acertar. Mas a preferência recai sobre maquiar. É aí que pinta a confusão. Muitos conjugam maquiar como odiar (odeio, maqueio). Bobeiam. O verbo que embeleza se flexiona como premiar: premio (maquio), premia (maquia), premiamos (maquiamos), premiam (maquiam). É isso. Eu me maquio todos os dias. E você? Tomara que se maquie. O rosto agradece. A família também. Os amigos? Idem. Idem. Idem.
É assim
Repeite as letras. Cabeleireiro deriva de cabeleira. Daí os dois is. E sobrancelhas? É desse jeitinho.
No restaurante
O cliente escolhe o prato. Alguém serve. Quem? O garçom. A palavra se escreve assim — com m no final.Chamar
O garçom nem sempre olha pro cliente. Como chamá-lo? Evite o psiu. Se souber, dirija-se a ele pelo nome. Se não souber, fique com garçom. Lembre-se da palavrinha mágica que abre portas e sorrisos: por favor.Agradecer
Agradecer é bom. Relacionada a ele está outra palavra mágica. Ele diz obrigado. Ela, obrigada. Ambos respondem por nada. Olho vivo! A gente agradece a alguém por alguma coisa. Agradecemos a Deus. Agradecemos ao garçom. Agradecemos ao diretor pela promoção recebida.Na substituição do alguém pelo pronome, o lhe pede passagem: Agradeço-lhe pela colaboração. Quero agradecer-lhe pela lembrança. Quem lhe agradece primeiro?
Na academia
A coisa começou como brincadeira. Uma criatura fez graça. Em vez de glúteo, disse glúten. Todos riram. O instrutor aderiu. Resultado: a moda pegou. Mas a brincadeira ultrapassou as quatro paredes. De repente, a academia começou a trocar os vocábulos. Não caia na esparrela. Glúteo é nádegas, a parte traseira do abdômen. Glúten, proteína presente em certos cereais.
Limite
“Vá até o seu limite máximo”, ordena o instrutor. Baita pleonasmo. O limite é sempre máximo. O adjetivo sobra. Xô! “Vá té o seu limite”, é suficiente. Bem-vindo!Na igreja
Amanhã é Dia de Nossa Senhora Aparecida. Nossa Senhora é autossuficiente. Dispensa o artigo. Sem o pequenino, a crase não tem vez: Agradeço a Nossa Senhora. Peço proteção a Nossa Senhora Aparecida. Deu graças a Nossa Senhora de Nazaré.
Dia da Criança
O verbo mais conjugado pela meninada? É presentear. Com ele, todo o cuidado é pouco. No presente do indicativo e no presente do subjuntivo, o nós e o vós agradecem. Mas dispensam o i. Assim: eu presenteio, ele presenteia, nós presenteamos, vós presenteais, eles presenteiam; que eu presenteie, ele presenteie, nós presenteemos, vós presenteeis, eles presenteiem.
Leitor pergunta
Repetir de novo é pleonasmo? Jonas Bonfim, Camaquã
Depende. Repetir é dizer outra vez. Você repetiu só uma vez? Dispense o de novo. Mais de uma vez? Ufa! É de novo.