Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Olha o ônibus, gente

"O que é bom para o dono é bom para a voz/ O que é bom para o dono é bom para vós /O que é bom para o dono é bom para nós." Chico Buarque

15/01/2018 11:22

Dad Squarisi

Sabia? Na língua existem verbos-ônibus. Eles funcionam como transporte coletivo. Cabem em 42 contextos e um pouco mais. Imprecisos, causam má impressão. Denunciam o redator preguiçoso ou pobre de vocabulário. Fazer é um deles. Ultimamente ganhou novo assento. É o tal de fazer aula disto e daquilo. Ou fazer um câncer, uma tuberculose, uma pneumonia. Cruz-credo! É possível substituí-lo por outros mais precisos. Com um cuidado: sem pedantismo, afetação ou rebuscamento.


Exemplos não faltam. Fazer uma carta? É escrever ou redigir a carta. Fazer um discurso? É proferir o discurso. Fazer uma fossa? É cavar a fossa. Fazer uma estátua de mármore? É esculpir a estátua de mármore. Fazer o trajeto de carro? Melhor percorrer o trajeto. Fazer direito é cursar direito.

Olho vivo

Fazer erros? Fazer aulas? Fazer falta? Fazer mortes? Cruz-credo! Xô, modismo! Fazer não substitui cometer, praticar, ter & cia. mais precisa: cometer erros, cometer faltas, ter aulas, assistir a aulas, causar mortes, provocar mortes.

Suco de pedra

Início de ano tem uma marca. Nada acontece além de festas e férias. As notícias rareiam. Então, não dá outra: qualquer história vira manchete. As pessoas se interessam. Quando veem do que se trata, frustram-se. Descobrem que se trata de factoide.

Factoide rima com asteroide e debiloide. Elas têm um denominador comum. É -oide. As quatro letrinhas vêm do grego. Querem dizer forma, aparência, imagem. Asteroide é o que tem aparência de astro. Debiloide, de débil mental. Às vezes, as danadinhas bancam as gozadoras. Mandam a seriedade pras cucuias e caem na diversão. Agregam-se a certas palavras pra dar-lhes sentido jocoso. É o caso de factoide, que faz companhia a cretinoide.

Sem bobeira

A língua é cheinha de ciladas. Ao menos descuido, lá vaaaaaaaaaamos nós. Uma das vítimas é o verbo faltar. Cuidado com a concordância. O sujeito posposto ao verbo engana. Dá a impressão de ser objeto direto. Não é. Olho vivo: Falta uma hora. Faltam três dias. Faltam três dias. Faltam recursos para concluir o programa.


Supersuper

Que frio! A virada do ano em Nova York foi a mais gelada dos últimos 100 anos. A temperatura chegou a 11 graus negativos. O fato obrigou repórteres e comentaristas a pesquisar o superlativo absoluto sintético do adjetivo frio. Eles descobriram que esse grau é cheio de poder. Basta um sufixo para dar o recado. Em geral, o –íssimo resolve (belíssimo, velhíssimo, limpíssimo). Mas há vocábulos que pedem outro (facílimo, macérrimo, paupérrimo). Outros têm duas formas. Uma popular (negríssimo, docíssimo, nobríssimo). Outra erudita (nigérrimo, dulcíssimo, nobilíssimo).

Há, também, o supersuper – o superlativo que dobra o i. Coisa rara. Poucos adjetivos têm esse poder. Quais? Os terminados em –io no masculino: frio (friíssimo), macio (maciíssimo), necessário (necessariíssimo), sério (seriíssimo), sumário (sumariíssimo).

Leitor pergunta

Qual é o adjetivo derivado de fêmur?
Cláudio Sales, BH

É femoral – assim, com o: músculo femoral, artéria femoral.

 *

Sempre ouvi dizer que enfezar deriva de fezes. Mas, outro dia, soube que a etimologia do verbo é outra. Pode jogar luz sobre a escuridão?
Maria Celeste, Brasília
 
Muita gente acha que enfezar tem a ver com fezes presas, a conhecida prisão de ventre. A razão: a pessoa que não consegue fazer cocô fica irritadiça, enjoada, chata, enfezada. Mas, entre os mitos da etimologia e a etimologia real, há senhora diferença. O verbo vem mesmo do latim infensare -- ser raivoso com, ser hostil. Nada a ver com fezes.

PESQUISA DE CONCURSOS