Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Os deuses e a língua: Nike e Tique

"A linguagem é como uma pele: com ela eu faço contato com os outros." Roland Barthes

13/03/2018 08:06 | Atualização: 09/03/2018 19:21

Dad Squarisi

Viva! Hoje é a festa do cinema. Atores, atrizes, diretores, figurinistas, compositores & cia. talentosa disputam a estatueta que todos amam e todos desejam. O Oscar abre portas, turbina carreiras e engorda a conta bancária.

 

A entrega

Para chegar lá, os artistas firmam um pacto com os deuses da mitologia grega. E aguardam. Os vencedores recebem o troféu das mãos de Nike. A deusa da vitória não é responsável pela glória ou fracasso de uns e outros. Ela só entrega a láurea. Por isso tem asas. Vai de um lugar a outro rapidinho. Onde há um vencedor, lá está ela. Bem-vinda!

Sorte ou azar

Ora, se Nike não interfere no resultado do certame, quem mexe os pauzinhos? É a senhora da sorte e do azar. Em grego, ela se chama Tique. Em português, Fortuna. A divindade desempenha papel importante na vida de todos. Ela escolhe o destino dos humanos. A escolha não tem nada a ver com qualidades ou defeitos de cada um. Tem a ver com o acaso.

Há dias em que Tique acorda de bom humor. Bate o olho numa pessoa. Oba! A sortuda consegue tudo o que quer. Mas, se a poderosa abre os olhos mal-humorada, valha-nos, Zeus! Ela faz tudo dar errado na vida de adulto ou criança. Por mandar na sorte e no azar, a deusa recebe muitos nomes. Uns a chamam de destino. Outros, de fado. Alguns falam em ventura e desventura. A razão: ela não vê o que faz. É ceguinha.

Sétima arte

A história começou em 1911. O italiano Ricciotto Canudo, teórico e crítico de cinema, divulgou o Manifesto das Sete Artes. O documento tinha um objetivo claro: desconstruir a ideia de que o cinema era espetáculo para o povão. Impunha-se integrá-lo ao status das Belas Artes — música, pintura, escultura, arquitetura, poesia e dança. O cinema, para ele, era uma arte síntese das demais, seis no total. Daí ser a sétima.

Tudo por um filminho

Você é louco por cinema? Então é cinéfilo. A palavra tem duas partes, ambas greguinhas. Uma é cinema (cine), que quer dizer movimento. A outra, philos, que significa amigo.   

Que preguiiiiiiiiça

Muitas palavras começaram compridas e encolheram. No começo da vida, extra era extraordinário. Pronunciar palavra tão comprida? Ah, que preguiça. Entrou em campo a lei do menor esforço. A polissílaba se tornou dissílaba. Cinema, que virou cine, já foi cinematográfico. Cruz-credo! Imagine convidar o amado para ir ao cinematográfico. O amor, que é cego, mas não é surdo, bate asas e voa.

A lei do menor esforço é pra lá de forte. Ao contrário de muitas leis que não pegam, a danada chegou pra ficar. Professor vira prof. Refrigerante, refri. Televisão, tevê. Bicileta, bike. E por aí vai.

Só ou acompanhado

Que tal um cineminha? Pra lá de legal, não? A fim de tornar o programa perfeito, uma condição se impõe: tratar o verbo assistir com engenho e arte. O trissílabo tem manhas. Pode ou não ser acompanhado de preposição:

Assistir, soltinho, sem preposição, significa prestar assistência, ajudar, socorrer: O médico assiste os doentes. O governo assistiu os desabrigados pela chuva. A ONG assistirá crianças vulneráveis.

Assistir a quer dizer comparecer ou presenciar: Duzentas pessoas assistiram à posse do novo ministro. Os alunos assistiram ao documentário em silêncio. Você vai assistir à estreia da peça? Assisto a tudo.

Superdica

Na acepção de presenciar ou comparecer, assistir rejeita o lhe. Se precisar empregar o pronome, use a ele, a ela: Fui ao cinema ver o filme The Post. Os presentes assistiram a ele com interesse.


Leitor pergunta

Congestionamentos monstros ou congestionamentos monstro? A dúvida me atormenta desde sempre. Pode me ajudar?
Karla Mendes, Alegrete

Como adjetivo, Karla, monstro é invariável: tarefa monstro, tarefas monstro, congestionamento monstro, congestionamentos monstro.


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