Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Acertos que garantem vagas

"A moda é linguagem instantânea." Miuccia Prada

11/07/2018 18:55 | Atualização: 17/07/2018 15:06

Dad Squarisi

Muitos consideram o português uma língua muito difícil. Não falta quem jure que é a mais difícil de todas as conhecidas. Verdade? Não. É mito. Como todas as línguas de cultura, o português tem um sistema fonético, morfológico e sintático que precisa ser dominado. Pra chegar lá, impõe-se estudar. Imagine imensa escadaria. A cada nova aquisição, subimos um degrau. Até atingir o topo, longo percurso precisa ser percorrido. Vale a pena, não vale? Como dizem os chineses, toda marcha começa com o primeiro passo.


Um dos calos do nosso português de todos os dias são as semelhanças que confundem. É o caso do pequenino e aparentemente inofensivo a. O danado ora aparece com acento agudo (á), ora com acento grave (à), ora livre e solto, sem lenço e sem documento (a). Mais: o há, do verbo haver, soa do mesmo jeitinho. E daí? Como driblar tantas armadinhas? A resposta é uma só – seguir o conselho do esquartejador. “Vamos por partes”, diz ele.

Á

Nome da primeira letra do alfabeto. O plural é ás ou aa: Leu o texto de á a zê. Não disse nem á nem bê. Quantos ás tem o nome dele? Não sei ao certo. Mas são muitos aa.


A ou há?

Na referência a tempo, a preposição a indica futuro: O curso se inicia daqui a dois dias. A três meses das eleições, não se tem a definição dos candidatos. O filme começa daqui a pouco. Daqui a poucos dias, terminam as férias escolares.

*

Há exprime passado: Chegou há pouco. Moro em Brasília há oito anos. Há mais de dois anos Michel Temer preside o Brasil. Vi o filme há uma semana. Gostei.

A ou lhe?

Ops! Ambos são pronomes pessoais do caso oblíquo. Quando empregar um e outro?

Lhe tem duas funções. Uma: objeto indireto -- complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (a gente oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (a gente  agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (a gente obedece a alguém).

A outra: funciona como adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos (acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).

*

O a e o o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).

À ou a?

Epa! O acento grave não deixa dúvidas. Trata-se da crase. A danada ocorre se dois aa se encontrarem. O casório se dá quando a preposição a encontra o artigo definido a, ou o demonstrativo a, ou o a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo: O êxito é obstáculo à liberdade. Entreguei o relatório àquele homem.

Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos, só haverá crase antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Fui à Editora Nacional e à (editora) José Olympio. Canta à (moda de, maneira de) Roberto Carlos

*.

Forma fácil de descobrir se ocorre crase é substituir a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima, mas precisa ser do mesmo número — singular ou plural). Apareceu ao? Sinal de acento grave: Por exemplo: Fui a cidade. Com crase ou sem crase? Trocando-se cidade por teatro, temos: Fui ao teatro. Logo, fui à cidade.

Outros exemplos: Obedecemos à lei (ao regulamento). Dirigiu-se à cidade (ao parque). Comprou as obras (os livros). Prêmio natural às ambições espirituais (aos trabalhos). Fez referência à tradução (ao texto) à qual (texto ao qual) nos temos dedicado.

Leitor pergunta

Ao construir orações com o verbo ir, pinta uma dúvida. Quando ocorre crase antes do nome de cidade?
Thereza Carol, Porto Alegre

O Com o verbo ir, siga estes passos: substitua-o por voltar e oriente-se pela quadra:

Se, ao voltar, volto da,
Craseio o a.

Se, ao voltar, volto de,
Crasear pra quê?

Vou a Paris, a Roma e a Londres (Volto de Paris, de Roma e de Londres). Volta de? Crasear pra quê?

Vou à Paris da alta costura, à Londres do fog e à Roma do Coliseu (Volto da Paris da alta costura, da Londres do fog e da Roma do Coliseu).

 

Volta da? Então crase no a.


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