Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Vai faltar cadeia

"Meu vício / são as palavras cruzadas / da poesia." Ronaldo Costa Fernandes

04/12/2018 14:34 | Atualização: 04/12/2018 14:36

Dad Squarisi

Quinta-feira as cadeias se agitaram. Mais inquilinos chegaram lá. Entre eles, um peixe grande. É Luiz Fernando Pezão, governador do Rio. A notícia pegou repórteres desprevenidos. Não deu outra. Muitos trocaram as bolas. Em vez de mandado de prisão, disseram mandato de prisão. Esqueceram-se de pormenor pra lá de importante — uma letra faz a diferença.


Mandato é o poder de representação. Presidente, senadores, deputados, governadores, prefeitos, vereadores têm mandato. São eleitos por determinado período. O advogado também recebe mandato para defender o réu.

Mandado pertence a outra tribo — a de mandar. Significa ordem. No caso judicial, é ordem dada por juiz ou tribunal. Aí se chama mandado judicial. É o caso do mandado de segurança.

É a lei

Ao ser levado para o xilindró, Pezão apelou para o latim. Baixinho, disse: “Dura lex, sed lex”. Tradução: a lei é dura, mas é lei.

Pedir e pedir

Às seis horas, a polícia chegou ao Palácio Laranjeiras. Exibiu o mandado de prisão. O governador não resistiu, mas fez um pedido. Queria tomar banho e fazer a barba. Conjugou, então, o verbo pedir. Com ele, uma questão de regência. Ele pediu para o deixarem tomar banho e fazer a barba? Ou pediu que o deixassem tomar banho e fazer a barba?

Pedir para é duplinha manhosa que só. Ela esconde o substantivo licença. Pedir que, ao contrário, joga limpo. Sem esconder nada, significa solicitar. Ora, o governador pediu licença. Logo, pediu para o deixarem tomar banho e fazer a barba. Pediu para tomar banho e fazer a barba.

Não é pedido de licença? Então estendam o tapete vermelho para pedir que: O empregado pediu ao chefe que não lhe desse só aumento de trabalho. Mas um aumentinho de salário. A procuradora pediu que os repórteres saíssem da sala.

Boca de lobo

A Polícia Federal é pra lá de criativa ao nomear as operações. A de quinta-feira se chama Boca de lobo. Por quê? Trata-se de alusão ao dinheiro público que vai pelo ralo da corrupção. Ao escrever o trio, pintou a dúvida — com hífen ou sem hífen?

A reforma ortográfica se encarregou de cassar o tracinho que juntava três ou mais palavras para formar outro vocábulo. É o caso de pé de moleque, testa de ferro, mão de obra, tomara que caia e boca de lobo. A turma se escrevia com hífen. Agora se grafa livre e solta. Coisa boa!

Desperdício

Raquel Dodge falou sobre a Operação Boca de Lobo. Em entrevista à imprensa, ela disse que “os infratores ainda continuam a praticar crimes”. Desperdiçou vocábulos. Sem pensar em economia, usou duas palavras em lugar de uma. Ainda indica continuidade. Continua transmite a mesma ideia. Xô, pleonasmo! Melhor ficar com uma ou outra: Os infratores continuam a praticar crimes. Os infratores ainda praticam crimes.

Desacordo

Na mesma entrevista, a procuradora-geral da República disse sem corar: “Como está sendo feito a lavagem...” Ops! Caiu na cilada do sujeito posposto. Falantes se esquecem de fazer a concordância quando o sujeito vem depois do verbo. Para acertar sempre, basta mudar a ordem do termo. Assim: Como a lavagem vem sendo feita...

Leitor pergunta

Li que as palavras persiana, veneziana, damasco, havana, bengala, hambúrguer têm origem em nome de lugares. Verdade?
Ana Maria Silva, BH

Sim, são topônimos. Persiana vem de Pérsia. Veneziana, de Veneza. Havana, de Cuba. Damasco, de Damasco, capital da Síria. Bengala, de Bengala, região da Índia. E hambúrguer?

A almôndega achatada metida a besta era levada pelos emigrantes alemães para os Estados Unidos. No começo, a carninha se chamava hambúrguer steak (bife de Hamburgo). Depois, virou hambúrguer. Mais tarde, a preguiça falou alto. Tornou-se búrguer.

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