Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Piedade, gente

'Palavras amáveis podem ser curtas e fáceis de falar, mas seus ecos são infinitos.' Madre Teresa

24/04/2019 10:23 | Atualização: 24/04/2019 19:38

Dad Squarisi

Marcelo Abreu anda preocupado. Conhecedor da língua, ele não se conforma com a injustiça que vê num dia e noutro também. O vilão é o acento. A vítima, um parente da tartaruga. Marcelo escreve: “Os cágados são os que mais sofrem com a falta de acentuação”.

A fortona

Na nossa linguinha, as palavras com mais de uma sílaba têm acento tônico. É a que soa mais forte. Nas oxítonas, ele cai na última sílaba. É o caso de urubu, tupi, papel. Nas paroxítonas, na penúltima. Valem os exemplos de casa, potente, mulato. Nas proparoxítonas, na antepenúltima. Tâmara, líderes e fósforo servem de prova.

Acento, pra que te quero?

O acento tônico pode ter acento gráfico. (Entram então na jogada as regras que a gente aprende na escola.) Em português só há dois: o agudo (avó) ou o circunflexo (avô). O agudo informa que o som é aberto. Manda escancarar a boca (sofá, café, fósforo). O circunflexo fecha o timbre (lâmpada, você, complô).

Cágado

Cágado joga no time de secretária e início. Com o acento, eles têm um significado. Sem o agudão, outro. Compare: A secretária abre a secretaria antes do início das aulas. Eu inicio meu expediente depois de fazer ginástica. E o cágado? Faça uma frase com os dois sentidos. Depois, escreva com todas as letras se o Marcelo Abreu tem ou não tem razão.

Uma letra faz a diferença

Brasília completou 59 anos no domingo. O aniversário da capital é sempre uma grande festa. Cumprimentos se multiplicam. Aí, não dá outra. Pinta o troca-troca. O o toma o lugar do u. Resultado: o estrago pede passagem. Atenção ao comprimento da saia, da estrada, do corredor. Não se esqueça do cumprimento na entrada e na saída. Tampouco do cumprimento à aniversariante.

Por falar em cumprimentos

Cumprimentar é verbo queridinho da correspondência. Cartas, ofícios, memorandos? Lá está ele. Pega bem, pois, tratá-lo com elegância. Cumprimentar rejeita intermediários. É transitivo direto – a gente cumprimenta alguém (não: a alguém): Eu cumprimento João. João cumprimenta Rafael. O diretor cumprimenta você. Nós cumprimentamos Brasília.

Na substituição do nome pelo pronome, é a vez do o ou a. (Nada de lhe): Eu o cumprimento. Tenho a honra de cumprimentá-lo. Você as cumprimentou? Quero cumprimentá-la pela nota.

Chuvarada

A chuva alagou Brasília. Alagou também Rio, São Paulo, Campo Grande etc. e tal. Não só. Morros deslizaram, desalojaram populações, mataram gente. Caíram pontes, viadutos, prédios. A razão: a infraestrutura pede socorro. Ao escrever a palavra, muitos tropeçam na grafia. Valha-nos, Deus! Melhor fazer bonito — aprender as manhas do prefixo infra-. Ele pede hífen quando seguido de h ou a. No mais, é tudo colado. Valem os exemplos de infra-humano, infra-assinado, infraestrutura, infraconstitucional, infrarregional, infrassom, infravermelho.

Leitor pergunta

Órfão e órgão têm dois acentos?
Cynara Lira, Recife

Não. O til encuca a cabeça de muita gente. A cobrinha exibida é sinal de nasalidade. Diz que o nariz entra na jogada. Ao pronunciar a sílaba, por ele sai parte do ar (compare: Irma, irmã). Se a palavra não tiver acento (agudo ou circunflexo), o til faz a festa. Cai na sílaba tônica. É o caso de coração, cidadã, liquidação.

Com acento, cessa tudo o que a musa antiga canta. O sinalzinho perde a majestade. O agudo e o circunflexo é que indicam a sílaba tônica. Órgão e órfã são exemplos. A fortona é ór. Viu? Com os acentos, vale a regra — um é bom, dois é demais. 

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