Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Debandada na Bienal

27/08/2014 17:00

A Bienal corria solta. Editores exibiam lançamentos. Escritores autografavam obras. Especialistas faziam palestras. Estudantes seguiam professores pelos corredores sem fim. Adultos e crianças desfilavam pelo mar de livros.

De repente, não mais que de repente, apareceu este convite: "Às 19h30, o gerente de Inovação e Novas Mídias da Editora FTD, Fernando Fonseca, media a mesa-redonda com o tema Games e Educação. O evento terá participação do chefe do Departamento de Computação da PUC-SP, David Lemes, e Mario Lapin, diretor da Virgo Games".

Você foi ao debate? Nem você nem ninguém. Quem leu o texto caiu fora rapidinho. Por quê? Por causa do tropeço no verbo mediar. O danadinho pertence a turma pra lá de perigosa. Trata-se da gangue do MARIO. O nome se formou com a primeira letra dos cinco membros do grupo — mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar.

Eles se conjugam como o odiar — sem tirar nem pôr: odeio (medeio, anseio, remedeio, incendeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, incendeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, incendeiam). E por aí vai.

É isso. O auditório teria gente entrando pelo ladrão se o convite estivesse com esta redação: Às 19h30, o gerente de Inovação e Novas Mídias da Editora FTD, Fernando Fonseca, medeia a mesa-redonda.

Palavra de Fernando Sabino
"A crônica parece o gênero mais fácil, e realmente é para os que não ousam ou não merecem tentar uma existência literária mais duradoura. O verdadeiro escritor em geral busca nela apenas um meio de vida que se oferece, mas consciente muitas vezes de estar trocando em miúdos as exigência de sua vocação."

Espirros
Sabia? O pronome todo tem alergia ao numeral dois. Todos os dois? Valha-nos, Deus! É espirro pra todos os lados. Diga os dois. Ou ambos.

Que confusão

Atento leitor, Paulo José Cunha deu de cara com este texto: "Instalar o Google é novidade, e o Gmail é um serviço on-line. Se você não consegue acessá-lo, o problema é com sua conexão, o monitor não tem nada haver com isso". Ops! Sem acreditar nos próprios olhos, ele leu as frases outra vez. Mais uma. Suspirou fundo. Inconformado, comentou: "Tenho observado que esse erro é recorrente. O que se pode fazer?"

Só há uma saída, Paulo. Entender a diferença entre a ver e haver. Se falamos de relação, é a vez da duplinha: Ele tem a ver (tem relação) com a briga no estádio. O emprego da vírgula tem tudo a ver com a análise sintática. O trabalho dele não tem nada a ver com a bolsa de valores. Se você não consegue acessá-lo, o problema é com sua conexão, o monitor não tem nada a ver com isso.

*

Haver é o velho verbo que tem mil e um empregos. Ele pode:

1. Ser auxiliar: hei de ler, hás de ler, há de ler, havemos de ler, hão de ler.

2. Indicar contagem de tempo passado: Cheguei há pouco. Trabalhava na loja havia dois anos.

3. Substituir o verbo existir: Na sala, há oito pessoas.

4. Significar ocorrer: Na campanha houve (ocorreram) incidentes.

*

É isso, Paulo. Falamos de relação? O a ver pede passagem. No mais, o haver é pra lá de bem-vindo.

Leitor pergunta

Você é pronome de 2ª ou 3ª pessoa?
Cláudia Sereno, Alegrete

A dúvida é sua e do mundo, Cláudia. Sabe o porquê do nó nos miolos? O você (originalmente Vossa Mercê), como Vossa Excelência e Vossa Senhoria, é pronome de tratamento. Leva o verbo para a 3ª pessoa. Mas é de 2ª pessoa. Incoerência? Não. Quando usamos você ou tu, estamos nos dirigindo a alguém, não? Eles são os seres com quem falamos.

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