Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Discursos de campanha

22/09/2014 10:06

Sabia? Campanha eleitoral também é cultura. De vez em quando, pintam palavras e expressões pra lá de estimulantes. Provocam a gente a ir atrás de significados, etimologias, curiosidades. Marina serve de exemplo. Ao enfrentar os bombardeios da poderosa inquilina do Planalto, usou imagem pra lá de expressiva: "É a luta de David contra Golias". Eleitores ficaram curiosos. Como foi mesmo o enfrentamento do pastor e do gigante? A história está na Bíblia. É esta.

Davi contra Golias
O gigante Golias era gigante mesmo. Tinha 3 metros de altura. Fortão, usava armadura e capacete de ferro. Carregava um escudo pra proteção, uma espada e uma lança que pesava seis quilos. Todos tremiam de medo dele. Com razão. O brutamontes vencia as lutas sem esforço. Depois, humilhava os derrotados.

Um dia, os filisteus, povo de Golias, declararam guerra a Israel. Golias desafiou Israel em voz alta a apresentar um homem que lutasse sozinho contra ele. Cadê coragem? Durante 40 dias, ele repetiu a provocação. Até que um pastor reagiu. Era Davi. O gigante morreu de rir do jovem ruivo e belo. E avançou contra ele.

Bobeou. O rapazinho meteu a mão na sacola a tiracolo, pegou uma pedra e a pôs na funda. Girou e lá aaaaaaaa foi ela. A pedra se cravou entre os olhos do valentão. Ele caiu e morreu. Davi virou herói. Mais tarde, tornou-se rei de Israel. Durante o reinado, construiu uma cidade magnífica. É Jerusalém. Valeu, não?

Bem-vindo

A corrida do PSDB ao Planalto espalha sorrisos a torto e a direito. Diz que Aécio abre as portas da mudança. Quem quer sair desta e entrar em outra? "Pode entrar", convida a voz hospitaleira. "Bem-vindo", completa com charme e boa vontade. Terá conseguido adeptos? Talvez. Sobre o assunto, só há uma certeza. Bem-vindo se escreve assim, com hífen.

Medo rimado
O Partido Comunista Brasileiro não entrega os pontos. Luta. Como vencer tantos Golias? Os marqueteiros pensaram, pensaram, pensaram. Eureca! Optaram pela rima. A coincidência de sons cola no eleitor. Melhor ainda se forem temas polêmicos. Ei-los: homofobia e xenofobia. A duplinha tem pontos comuns. Uma: a nacionalidade. Ambas são gregas. A outra: coincidência. As duas recorrem ao vocábulo fobia. A trissílaba quer dizer medo.
Homofobia é a rejeição ao homossexual. A criatura tem pânico dos diferentes. Pra aplacar o temor, dá mostras de intolerância. Agride o outro. Xenofobia lida com outras intolerâncias. Volta-se contra o estrangeiro. Valha-nos, Deus! Cruz-credo! Xô!

Desrespeito?

"O sofrimento das famílias é um desrespeito a dignidade humana", escreveu o pastor Everaldo. O presidenciável se referia aos maus-tratos por que passam os brasileiros na fila dos hospitais. Acertou no diagnóstico. Mas… cadê a crase? Alguém roubou. Favor devolvê-la: O sofrimento das famílias é um desrespeito à dignidade humana.

Na dúvida, recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina (dignidade) por uma masculina. Não precisa ser sinônima. Se no troca-troca der ao, tenha certeza. A crase tem vez: O sofrimento das famílias é um desrespeito ao ser humano.

Que país é este?
A campanha tem um ponto comum. Todos batem na língua. A vítima preferida é o Brasil. Ao se referirem a esta Pindorama tropical, os candidatos se esquecem que estão aqui. Dizem "esse país", "nesse país", "desse país". Bobeiam. O espaço onde estamos exite o pronome este: Nunca antes na história deste país se desrespeitou tanto o português. Este é um país que vai pra frente. Que país é este, moçada?

Leitor pergunta
A falta de revisão compromete o texto e a imagem do jornalismo. Às vezes torna o texto até divertido. É o caso de chamada do G1. Ao noticiar o crime que envolveu dois médicos em São Paulo, o portal escreveu: "Paciente surtou após cirurgia, dizem amigos. Ele matou médico e se suicidou depois". Pergunto intrigado: alguém pode se suicidar e, passado um tempo, se lembrar de acabar com a vida de outro?

Roberto Barreto, Ipatinga
A pressa, aliada à falta de releitura, dá nisto: pancadas na língua. Valha-nos, Deus!

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