Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

A estrela da Terra brilha no céu

09/12/2015 12:16

Dad Squarisi

Marília Pêra morreu. A talentosa atriz não resistiu a um câncer de pulmão. Depois de dois anos de luta, a doença a venceu. Ela foi pro céu, mas deixou bela herança. Além dos filmes que bateram recordes de bilheteria como Pixote, a estrela brilhou na ópera, na dança e na música popular.

Deus, nas alturas, reconheceu o talento da moça. Nós, na Terra, também. A imprensa lhe dedicou generoso espaço. Mas, na hora de falar sobre a missa de adeus, pintou a dúvida. O xis da questão foi o toque do sino. Qual o verbo adequado para indicar luto? Soar, tocar, dobrar ou badalar? A turma se dividiu. De um lado, ficaram os defensores do dobrar. Do outro, os do soar. Tocar também teve adeptos.

Alguém lembrou Heminguay. O escritor americano escreveu o livro Por quem os sinos dobram. Nele retrata o horror da Guerra Civil Espanhola. Na escolha do título, inspirou-se nos versos de John Donne: "A morte de qualquer homem me amesquinha porque faço parte da humanidade. Portanto nunca manda saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti".

E daí? Os sinos sempre dobram em atos fúnebres? Os dicionários respondem. O Houaiss registra dobrar na acepção de soar os sinos. Não faz nenhuma referência à passagem desta pra melhor. O Aurélio vai além. Diz que dobrar é soar o sino "dando volta sobre o eixo (o que geralmente é sinal de morte)". Em suma: o uso consagrou badalar como toque festivo. E dobrar, triste. Mas a acepção do dissílabo pode ser neutra. Simplesmente soar.

Ops! Há mais
Dobrar tem muitas acepções. Os bancos dobram os lucros. A balconista dobra a roupa. O argumento dobra o chefe. O jogador dobra a bola. O fiel dobra os joelhos. O filho dobra a alegria dos pais. O sol dobra no horizonte. O garoto malcriado? Dobra a língua. E o sino? O sino badala, soa, mas também dobra.

Coisa feminina

No livro Getúlio escreve a Lourival — os bilhetes da Casa Civil da Presidência da República (1951-1954), que acaba de ser publicado, Getúlio Vargas revela conhecimento de sutilezas da língua. Num dos bilhetes, manda trocar uma palavra num discurso e explica a razão da troca:

“O termo envaidece no fim da 5ª página pode ser trocado por orgulha. Vaidade é coisa feminina”.

De terno e gravata
Aneurisma é macho e não abre: o aneurisma, aneurisma violento.

Aquém do muito

Viu muito poucos amigos? Viu muitos poucos amigos? Faça a sua aposta. E daí? Se escolheu o singular, acertou. Muito é advérbio. Joga no time das palavras invariáveis. Sem singular ou plural, com ele é tudo igual. Assim: Viu muito poucos amigos. São muito poucas as possibilidades de ele receber a indicação do partido. Conseguiu a adesão de muito poucas pessoas.

Professor

“A educação pode prescindir de prédios, equipamentos, bibliotecas e computadores, mas jamais conseguirá realizar-se sem o concurso dos professores. Neles repousa o sucesso ou o insucesso dessa atividade essencial para a continuidade histórica e cultural da humanidade.” (Paulo Nathanael Pereira de Souza)

Leitor pergunta

Bebê é um substantivo comum de dois gêneros ou sobrecomum? Posso dizer “o bebê” para crianças do sexo feminino e masculino?

Miguel Ferreira Silva

O Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp) classifica bebê e estudante do mesmo jeitinho. Ambos são substantivos de dois gêneros. Assim, como se trata um, trata-se o outro: o estudante, a estudante; o bebê, a bebê.

***

“Irei mandar o presente pelos Correios”, escreveu minha madrinha. Achei a locução verbal esquisita. É capricho meu ou há algo de estranho no reino da duplinha?

Celina Guimarães, Tubarão

Sua dúvida procede, Celina. Há duas formas de indicar o porvir. Uma é o futuro simples (mandarei). A outra, o composto (vou mandar). Nada do pleonástico irei mandar ou do inexistente vou estar mandando. Xô!

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