A aula que fez falta
20/04/2017 15:25
Dad Squarisi
Tudo perfeito? Quase tudo. Em determinado momento, ao se referir à recuperação do centro da capital paulista, o prefeito que esbanja popularidade disse: “O Minhocão será melhor percebido pela população”. Ops!
Foi uma ducha de água fria. O homem deixou claro que foi bom aluno, mas matou aulas. Uma delas tratou de tema pra lá de sofisticado – a diferença de emprego do mais bem e do melhor. A outra: os pleonasmos.
Melhor x mais bem
Os professores se esforçam. Querem porque querem que os alunos aprendam. Pra atingir o objetivo, parcelam o conteúdo. É o caso do melhor. Pra começo de conversa, dizem que mais bem não existe. A duplinha cede a vez a melhor: come melhor, trabalha melhor, fala melhor.
Depois, numa segunda etapa, informam que há duas exceções. Mais bem se usa:
1. antes de particípio: O trabalho de Paulo foi mais bem feito que o de Luís. As francesas são as mulheres mais bem vestidas da Europa. Ambiciona o cargo mais bem pago da República. O Minhocão será mais bem percebido pela população.
2. em comparação: Na prova, ele se saiu mais bem do que mal. A primeira-dama fala mais bem do que mal. A turma escreve mais bem do que mal.
Erário
No roda-roda da cadeira, Dória deu outra pisada de bola. Falou de “erário público”. Bobeou. O erário é sempre público como o subir é sempre pra cima e o descer é sempre pra baixo. Basta erário, subir e descer.
Mais redundâncias
Já imaginou se tivéssemos de pagar por palavra usada? Como o bolso é a parte mais sensível do corpo, uma conclusão se impõe: seríamos mais econômicos. O que sobra fica fora. A parcimônia poupa a paciência do ouvinte ou do leitor. É pra lá de bem-vinda. Exemplos pululam a torto e a direito. Veja:
encarar (de frente)
duas metades (iguais)
empréstimo (temporário)
experiência (anterior)
habitat (natural)
estrear (novo)
ganhar (grátis)
exultar (de alegria)
manter (o mesmo)
minha opinião (pessoal)
planos (para o futuro)
prevenir (antes que aconteça)
(totalmente) lotado
Leitor pergunta
Li estas duas frases:
1. Os bombardeios americanos atingiram alvos sírios.
2. Aviões sírios foram o alvo do bombardeio americano.
Minha pergunta: por que, no segundo exemplo, alvo está no singular? Não deveria dar a vez ao plural?
João Maria Basto, lugar incerto
Trata-se, João, do falso plural. Deixamos no singular o substantivo abstrato que, depois de verbo de ligação (ser, estar, ficar, permanecer, tornar-se, virar, constituir), caracterize genericamente o sujeito plural: Os aviões sírios (suj.) foram o alvo dos ataques americanos. Filmes vencedores do Oscar (suj.) são destaque da programação cinematográfica. Os voluntários da Cruz Vermelha (suj.) tornaram-se exemplo de eficiência. Animais em extinção (suj.) viraram objeto de desejo de colecionadores. Substantivos e verbos (suj.) são o essencial na oração.
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Qual a diferença entre coringa e curinga?
Maria Eulália, Recife
Olho vivo! Uma letra faz a diferença. Você fala da vela usada na proa das barcaças? Escreva coringa. Fala da carta de baralho que muda de valor segundo a posição? Ou de pessoas e coisas que têm mil e uma utilidades? Dê a vez a curinga