Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Outubro feminino sim, senhores

"O historiador é um profeta voltado para trás", Schlegel

06/10/2017 17:52 | Atualização: 06/10/2017 17:57

Dad Squarisi

O Brasil se veste de rosa. Em Brasília, palácios e monumentos ganham a cor que já foi exclusividade feminina. Brasil afora o colorido se repete. A razão é nobre. Este mês é dedicado à luta das mulheres contra o câncer de mama. A campanha é pra lá de bem-vinda. Por ano, nada menos de 60 mil pessoas descobrem a doença. Pior: as vítimas são cada vez mais jovens.


De carona com os alertas, uma curiosidade vem à tona. Por que câncer se chama câncer? Câncer chegou ao português via latim (cancer). Mas a palavra tem outra origem. O vocábulo nasceu grego. Na língua de Aristóteles e Platão, era karkinos. A trissílaba quer dizer caranguejo. O que a doença tem a ver com o crustácio? A aparência: o desenho das veias da região afetada pela doença lembra … caranguejo.

A cor

A curiosidade não se restringiu à origem. Foi além. Bateu à porta da grafia. Eis a questão: por que cor-de-rosa se escreve com hífen enquanto as irmãzinhas cor de laranja, cor de pêssego, cor de vinho & cia. dispensam o tracinho? A resposta: travessura da reforma ortográfica. Ao cassar o hífen dos compostos com três palavras ou mais ligados por pronome, preposição, conjunção (pé de moleque, tomara que caia, testa de ferro, mão de obra, mula sem cabeça), a lei citou exceções. Entre elas, cor-de-rosa, pé-de-meia, arco-da-velha.

Limite

Generalizar é proibido. Se os vocábulos pertencem aos reinos animal ou vegetal, cessa tudo o que a musa antiga canta. O hífen, majestoso, se mantém firme e forte. Há exemplos pra dar, vender e emprestar: joão-de-barro, porquinho-da-índia, bicho-do-pé, cana-de-açúcar, pimenta-do-reino, castanha-do-pará.

Outra questão

A campanha acende a luz amarela. Chama a atenção para a importância do autoexame. Com o toque, a mulher pode descobrir um carocinho pra lá de escondido. Se correr para o médico, tem 95% de chance de cura. Ufa! Ao tratar do assunto, pintou uma dúvida na cabeça do repórter. Como escrever autoexame?

O prefixo auto- obedece à regra dos irmãozinhos que fogem da confusão. Pede o tracinho quando seguido de h ou de o (duas letras iguais causam curto-circuito). No mais, é tudo colado como unha e carne: auto-historiador, auto-opressão, autodidata, autoescola. E, claro, autoexame.

Lembrete

Moçada, nada de bobeira. Nome de mês é vira-lata. Escreve-se com inicial pequenina (janeiro, fevereiro, março, abril, outubro, dezembro). Mas, quando figura em datas comemorativas, ganha pedigree. Vira substantivo próprio. Aí, não dá outra. As grandonas pedem passagem: Outubro Rosa, 13 de Maio, Sete de Setembro.


Leitor pergunta

O Distrito Federal tem 400 piscicultores. A maior parte dos peixes não vem do mar nem dos rios. Vem de tanques de criação dos nadadores. Minha pergunta: o que piscicultor tem a ver com peixe?
Juca Lima, Ouro Preto

Piscicultor, Juca, vem do latim piscina. A trissílaba deriva da latina piscis (peixe). Daí pisciano (do signo de peixes) e piscicultura (cultura de peixes). Com o tempo, o sentido de piscina se ampliou. Passou a designar reservatório para banhos públicos ou tanque para nadar.

***

Ouvi de ministro do STF, a propósito de ficha limpa e de corrupção, algo como ter se tornado normal políticos extorquirem empresas mediante a prestação futura de favores. Cochilou, não?

José Ricardo de Antoni, Brasília

Extorquir significa arrancar. O verbo faz uma exigência. O objeto direto tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa, não alguém: Fiscais extorquem dinheiro de empresários. A polícia extorquiu o segredo. Extorquiram a fórmula ao farmacêutico.

A frase de Sua Excelência diz que os políticos extorquem empresas. Difícil, não? Melhor seria dizer que eles extorquem favores futuros de empresários.

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