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Crase tim-tim por tim-tim

"A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda." Luis Fernando Verissimo

23/10/2017 13:12 | Atualização: 23/10/2017 13:21

Dad Squarisi

Circula na internet texto pra lá de criativo. Chama-se “As rimas da crase”. O Blog da Dad publicou os versinhos. Alguns internautas aplaudiram. Outros criticaram. Precisavam de exemplos pra entender o recado. Afinal, não são especialistas no assunto. Têm razão. Vamos combinar? Escrevemos para ser lidos, entendidos e, se possível, admirados. Daí por que leitor não pede. Manda. Com explicações e exemplos, o resultado é um só — adeus, dúvida. Xô!


Versinhos

1. Diante de masculino, crase é pepino.
Crase é feminista. Com ela, só o nome feminino tem vez. Por quê? O acento grave (`) indica o casamento de dois aa. Um é a preposição. O outro, em geral, o artigo definido: Vou à piscina. Dirigiu-se à diretora. Voltou à casa do amigo.

2. Diante de ação, crase é marcação.

Como o verbo não aceita artigo, diante dele a crase é pra lá de proibida: A passagem mudará de preço a partir de amanhã.

3. Palavras repetidas, crase proibida.

É o caso de face a face, gota a gota, cara a cara, frente a frente, uma a uma.

4. A + aquele, crase nele.
Como o grampinho anuncia o casamento de dois aa, além do artigo, outro azinho aparece na jogada. Trata-se da primeira sílaba do demonstrativo aquela, aquele, aquilo: Foi àquela casa. Referiu-se àquilo que todos escondiam.

5. Vou a, volto da, crase há.


6. Vou a volto de, crase pra quê?

Vou a Brasília? Vou à Brasília? Vou a Pernambuco? Vou à Pernambuco? Vou a Alemanha? Vou à Alemanha? Dúvida diante do nome de cidade, estado ou país bate à porta todos os dias. Um versinho ajuda a fugir da enrascada. Ei-lo:

Se, ao voltar, volto da, craseio o á.

Se, ao voltar, volto de, crasear pra quê?


Então, basta substituir o verbo ir pelo voltar e recorrer à diquinha rimada: Vou a Brasília. (Volto de Brasília.) Vou a Pernambuco. (Volto de Pernambuco.) Vou à Alemanha. (Volto da Alemanha.)  

7. Quando for hora, crase sem demora.
Eis exemplos: A aula começa à 1h. Trabalho das 8h às 18h. Há voos às 9h30, às 15h e às 22h. O dia começa à 0h.

8. Palavra determinada, crase liberada.
O nome vem acompanhado de artigo ou não? Se a resposta for positiva e houver o encontro de dois aa, o grampo pede passagem. Caso contrário, mantém-se recolhido com a paciência dos sábios: Assistiu a duas reuniões. (Havia várias reuniões. Ele assistiu a apenas duas.) Assistiu às duas reuniões. (Só havia duas reuniões. Ele assistiu a ambas.)

9. Sendo à moda de, a crase vai vencer.

A crase é feminista, não é? É. Mas também é enganadora. Às vezes esconde o nome feminino só pra enganar o bobo na casca do ovo. A manobra ocorre com a expressão à moda de ou com o cuidado de não repetir palavras. Veja: Corta o cabelo à (moda de) Roberto Carlos. Gesticula à (moda de) Michel Temer. Não foi à Rua da Praia, mas à (rua) dos Andradas.

10. Adverbial, feminina e locução, crase, meu irmão.
Sempre que se fala de locução, fala-se de mais de uma palavra. Há locuções verbais (começou a correr), locuções adjetivas (anel de ouro), locuções pronominais (qualquer um), locuções prepositivas (em face de).

Locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas formadas por palavras femininas pedem o acentinho grave: Agiu às claras. Viaja sempre às pressas. Saiu às três da tarde. À medida que estudava, sentia mais facilidade na matéria. Saiu à frente dos concorrentes. Esperava-o à porta de casa.

Leitor pergunta

É correto falar em erro de ortografia?
Geisa Magalhães, Porto Alegre

Não. Ortografia significa escrita correta das palavras. A forma nota 10 é erro de grafia (erro de escrita).

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