O deus dos rios e oceanos
Possêidon, o deus das águas, mora no fundo do mar. Ali, construiu um palácio pra lá de luxuoso. Para dar umas voltinhas na terra, tem um carro puxado por cavalos muito especiais. Os pés deles parecem palmas da mão humana. Na viagem, sereias vão junto. Cantam e tocam música o tempo todo.Um dia, o ilustre senhor ganhou um tridente. Gostou tanto do presentinho que andava com ele por todos os lugares — no banho, no almoço, na cama. Sabe por quê? O tridente torna o deus superpoderoso. Com ele, provoca tempestades e terremotos. Oceanos, mares e rios viram infernos. Às vezes, as águas devoram os navios. Outras vezes, desviam as embarcações do caminho. É um caos.
Mas Possêidon também faz bondades. Quando está de bom humor, protege os navegantes. Acompanha-os nas viagens. Desvia-os dos perigos. E eles chegam em casa salvos e felizes. É uma festa. Em suma: o deus manda e desmanda nas águas por este mundão afora. Tem tanto poder que enche o fundo dos mares de rochas. São as rochas netunianas.
O porquê
Rochas netunianas? É isso mesmo. Os deuses da mitologia grega foram adotados pelos romanos. No império dos Césares, mudaram de nome. Zeus virou Júpiter. Dionísio, Baco. Hermes, Mercúrio. Possêidon, Netuno.Que sede!
Plantas precisam de água. Daí nasceu o verbo aguar. Como conjugá-lo? Olho no acento. Presente do indicativo e do subjuntivo pregam peças. Bobear é proibido: águo, águas, água, aguamos, aguam; aguei, aguaste, aguou, aguamos, aguastes, aguaram; aguava, aguavas, aguava, aguávamos, aguavam; que eu águe, águes, águe, aguemos, águem. E por aí vai.Juízo, por favor
Ops! A população cresceu. Imprevidentes, os governos adiaram medidas pra aumentar a oferta de água. A população, crente de que o recurso é infinito, abusa. Toma banhos demorados, deixa a mangueira fazer a festa, mantém a água escorrendo enquanto escova os dentes ou lava a louça. São Pedro, indiferente, fecha as torneiras do céu.Resultado: a escassez pediu passagem. Com ela, o racionamento. A palavra, que arrepia os pelos mais íntimos de gregos, romanos e troianos, tem origem para lá de lógica. Ela deriva de razão. Pertence à família de racional, racionável, raciocinar, arrazoar — todos intimamente ligados a juízo, ponderação, raciocínio.
Reúso
Reaproveitar a água é a ordem. Reúso, a palavra. Ela deriva de uso. O prefixo re- quer dizer de novo (reler, rever). O acento se impõe. Ele quebra o ditongo. O u, pra ganhar o grampinho, exige o cumprimento de quatro condições. Uma: ser tônico. Outra: ser antecedido de vogal. Mais uma: formar sílaba sozinho ou com s. A última: não ser seguido de nh: re-ú-so, sa-ú-de, ba-ús.Eles disseram
“Água detida é má bebida.” (povo sabido)
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“Água silenciosa é sempre perigosa.” (provérbio)
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“Água salgada, alma lavada.” (voz do povo)
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“A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.”
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“A água vai faltar mesmo sabendo usar.” (Alex Periscinoto)
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“As falhas dos homens eternizam-se no bronze. As virtudes se escrevem na água.” (William Shakespeare)
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“Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água.” (Benjamin Franklin)
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“Deixem quieta a água lamacenta e ela, por si só, se torna transparente.” (Lao-Tsé)
Leitor pergunta
Por que demissão se escreve com ss?Samantha Gomes, Brasília
As duas letrinhas têm a ver com a família. O verbo do clã termina em -itir. O substantivo dele derivado ganha dose dupla: admitir (admissão), emitir (emissão), transmitir (transmissão).