Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Quem foi já era

%u201CÉ preciso educar os educadores.%u201D Edgar Morin

06/12/2018 18:48

Dad Squarisi

George Herbert Walker Bush morreu no sábado. Tinha 94 anos. Conhecido como Bush pai pra não ser confundido com o filho do mesmo nome, foi o 41º presidente dos Estados Unidos. Durante o mandato, fez e aconteceu. Entre os feitos, ampliou a influência dos americanos no Oriente Médio.


A partida do ex-morador da Casa Branca ganhou manchetes em Europa, França e Bahia. Aí, não deu outra. Repórteres tropeçaram no prefixo ex-. Muitos disseram que “o ex-presidente quase invadiu o Iraque”. Nada feito. Ex-presidente não tem poder de invadir, nomear ou exonerar. Melhor acertar os ponteiros sem confundir leitores e ouvintes. Há jeitos: Em 1990, o presidente quase invadiu o Iraque. O então presidente quase invadiu o Iraque.

 

Olho vivo

Guarde isto: George H. W. Bush foi presidente dos Estados Unidos no período de 1989 a 1993, não ex-presidente. Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente do Brasil agora, mas presidente no período de 1995 e 2003. Mantega é ex-ministro da Fazenda, não ex-ministro da Fazenda no governo Dilma.

De reis e majestades

O ex- tem requintes. Ao designar alguém com a duplinha, abra os dois olhos. Nomeie o cargo mais alto que a pessoa ocupou ou aquele no qual ela se tornou mais conhecida. JK foi deputado, prefeito, senador, presidente da República. Quando se referir a ele, escreva o presidente Juscelino. Não o deputado, senador ou prefeito.

Os mortos? Esses têm direitos eternos. Glauber Rocha não é ex-diretor de cinema, nem Garrincha é ex-jogador de futebol, nem Renato Russo é ex-compositor. Ao citá-los, diga sem medo de errar: o diretor Glauber Rocha, o jogador Garrincha, o compositor Renato Russo. É a tal história: quem foi rei não perde a majestade.   

Vem, hífen

O ex- indica cessação de estado anterior. Pede hífen: ex-deputado, ex-combatente, ex-diretor, ex-presidiário, ex-marido.

Por falar em hífen...

O prefixo em cartaz? É super. Com a eleição de Bolsonaro, criaram-se dois superministérios. O da Economia ficou sob o comando de Paulo Guedes. O da Justiça, de Sérgio Moro. Com o redesenho da Esplanada, todos quiseram fazer bonito. Pintou, então, a pergunta: como grafar a dissílaba poderosa — com o tracinho ou sem o tracinho?

Super- pede hífen quando seguido de h e r. Nos demais casos, é tudo junto: super-homem, super-região, supersensível, superativo, superexigente, supermercado, superministro.  

Atenção, muita, atenção

Com nome próprio, cessa tudo o que a musa antiga canta: super-Moro, super-Guedes.

E a pronúncia?

Onyx Lorenzoni virou notícia. O deputado nunca sobressaiu. Pertencia ao baixo clero da Câmara até que... entrou no time de Jair Bolsonaro. Aí, virou notícia. A manchete foi a pronúncia do nome. Onyx é paroxítona ou oxítona? A língua responde. Em português, há um pacto entre as palavras. Todas as terminadas em x são oxítonas. (O acento tônico cai na última sílaba.) É o caso de inox, pirex, xerox, Onyx.

Mas, no reino das palavras como no dos homens, há os rebeldes. Alguns vocábulos querem ser diferentes. Desrespeitam o trato. Invejosos, torcem pelas paroxítonas.Tudo bem. Só que precisam do acento. O sinalzinho gráfico avisa que eles mudaram de time. Eis alguns traidores: Félix, ônix, tórax, fênix.

Leitor pergunta

Dez estados vão bloquear celulares ilegais. São piratas. Como lidar com pirata? A palavra se flexiona? Pede hífen?
Maria Benjamim, Porto Alegre

Pirata, na função de adjetivo, escreve-se sem hífen. Flexiona-se no plural: celular pirata, celulares piratas, rádio pirata, rádios piratas, navio pirata, navios piratas.


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