Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Uma experiência prática e real sobre memorização

29/05/2014 19:34 | Atualização: 18/12/2015 11:02

Vou narrar neste texto uma experiência real que vivenciei sobre o uso da memória, evolvendo a memorização de um número de telefone, a qual considero que, com os esclarecimentos e explicações a seguir, pode ser útil e aplicável aos estudos. Desde já saliento que não tenho dúvida de que memorizar objetos, nomes de pessoas e números de telefone não se confunde com estudar para concurso público, sendo preciso o devido cuidado com as fórmulas aparentemente milagrosas, propostas por aqueles que se colocam como magos ou gurus da memória.

Então vamos então à experiência...

Estava em viagem com um grupo de amigos e havíamos acabado de desembarcar. Um dos membros do grupo, logo após sair do avião, sacou o telefone e fez uma ligação para definir e combinar o procedimento e encontro para pegar o veículo que seria alugado, conforme previamente agendado. De repente a pessoa do outro lado da linha passou o número do telefone daquele que nos entregaria o carro fora do aeroporto. Ninguém tinha papel e caneta, e todos os demais estavam com o telefone desligado. Ouvimos o nosso amigo interlocutor repetir em voz alta o número pronunciado por aquele que estava do outro lado da linha, talvez até numa estratégia inconsciente para facilitar a memorização. E indagava, com certo desespero e preocupação, se alguém teria como anotar.

Daí eu disse: "fiquem tranqüilos, eu já memorizei". Os demais olharam para mim desconfiados. E depois que expliquei a minha estratégia mnemônica, todos os demais memorizaram.

O número era: 9-9-1-2-3-3-2-0. E como fiz? Usei dois recursos e técnicas de memorização que explicarei melhor em seguida.

Primeiramente, separei os números em duplas, isto é, dezenas. Assim a informação passou a ser 99-12-33-19. Agora, portanto, já não eram mais 8 unidades numéricas, mas 4 dezenas, de modo que reduzi de 8 para 4 dados, e de forma mais organizada.

Em seguida, para cada dezena, e na seqüência correta, criei uma série associativa aos números, correspondente à seguinte:
99- pensei na ideia de que se tratava de número comum de telefone;
12- pensei no número do Partido Democrático Trabalhista - PDT, o qual, por vários motivos, tenho como uma informação consolidada em termos de memória. Poderia até invocar a imagem do saudoso Leonel Brizola, o que não foi preciso;
33- idade de um amigo comum aos membros do grupo, que havia comemorado recentemente;
20- número da minha casa.

Criei na minha mente uma imagem que contavam com todas as imagens que se relacionavam às dezenas, na seqüência, a partir do número 12, já que o 99 eu tentei usar a ideia de que era um número comum para o início de números telefônicos.

Assim deu certo e resolvemos nosso problema.

Mas a grande questão é: o que está por trás disto?

No fundo aqui há duas técnicas a serem compreendidas e consideradas.

A primeira foi organizar a informação. Esta se relaciona com a técnica de categorização, criada por Reuven Feurstein, pai da Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural e do Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI. Também se relaciona a esta técnica a ideia de que o cérebro tende a colocar ordem onde há desordem, inclusive como forma de facilitar o trabalho cognitivo. Esta última corresponde à tese defendida pelo psicólogo cognitivo e neurocientista Michael Anderson, o qual sustenta a ideia de que o cérebro procura trabalhar como a lógica das caixas de correspondências, agrupando e organizando informações.

E isto consiste numa primeira estratégia que pode ser adotada nos estudos: tentar organizar a informação de forma a facilitar o seu contato e domínio. Por exemplo, pense no art. 22 da Constituição Federal, o qual trata da competência legislativa privativa da União. Estamos falando de nada mais nada menos que 29 incisos. Assim, uma estratégia possível é tentar criar categorias que possam relacionar as matérias e juntar os incisos que tenham alguma relação.

A segunda técnica foi o uso da lógica associativa. Existem inúmeros fundamentos que explicam este fenômeno, o que deixo de fazer neste texto pois o alongaria bastante. Mas trata-se de um recurso neurocognitivo muito importante. Os acrônimos, como por exemplo o famoso LIMPE (princípios constitucionais da Administração Pública previstos no art. 37 da Constituição: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) ou o mais recentemente famoso SO-CI-DI-VA-PLU (fundamentos da República, previstos no art. 1º da Constituição: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e livre iniciativa e pluralismo político), são exemplos de uso desta lógica associativa da memória.

Assim, não apenas é possível usar estes recursos nos estudos - sabendo usar, como eu sempre que enxergo uma oportunidade os utilizo enquanto estudo - já que nunca parei e não posso parar de estudar.

Porém, é preciso entender que estudar para concurso público não é o mesmo que participar de campeonato de memória ou memorizar nomes, números e objetos, principalmente para fazer demonstrações, como se estivesse em programa de auditório ou espetáculo circense. Não por acaso, é difícil ver entre a lista de aprovados em concurso público os tais mnemonistas ou campeões de memória.

Neste sentido, uma possibilidade de aplicação da lógica associativa da memória envolve o estudo de informações arbitrárias, ou seja, aquelas não contam com um sentido lógico, como os prazos processuais, quoruns do processo legislativo e mesmo número de leis e súmulas.

Mas para o uso da lógica associativa da memória uma condição importante consiste na criatividade, para criar associações com informações ou experiências que estão consolidadas.

Portanto, pense na possibilidade de aplicação destas estratégias ao seu estudo. Isto sem prejuízo de usar no dia a dia, principalmente quando for útil e necessário.

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