Após cobrar inglês para oficiais em sua última seleção pública, a Polícia Militar do Distrito Federal agora quer que os soldados, que serão aprovados no concurso público em aberto, também tenham conhecimentos na língua estrangeira.
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) quer que seus soldados sejam capazes de se comunicar em inglês. Para a corporação, o domínio da língua é fundamental para melhor atender os turistas estrangeiros, cada vez mais comuns em Brasília. É esse objetivo que explica a inclusão do idioma na prova para o próximo concurso da corporação, que oferece 2.024 vagas para soldados e cujas inscrições se encerram em 26 de março (para músico e corneteiro) e 4 de abril (para combatentes).
"A tendência é que o inglês seja cobrado cada vez mais nos próximos concursos públicos da corporação", confirma a tenente-coronel Sheyla Sampaio, sub-diretora da Diretoria de recrutamento e seleção da PMDF. Tendência que já vinha sendo percebida. No último edital — em 2016, para a carreira de oficial —, a língua inglesa também foi cobrada pela PM, a exemplo do que ocorreu na mais recente seleção de outra carreira militar, a do Corpo de Bombeiros, também dois anos atrás.
Segundo a tenente-coronel, no dia a dia, o domínio desse idioma é muito útil aos policiais. "Devido aos eventos internacionais dos últimos anos, como a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), o número de turistas estrangeiros continua crescendo, e isso gera a necessidade de que os policias saibam atender de forma adequada esse público, por exemplo, orientando onde é um hospital, uma delegacia ou fornecendo qualquer outra informação solicitada", analisa Sheyla.
O que será cobrado?
A decisão de exigir esse conhecimento costuma provocar debates. Em 2016, após o lançamento do edital dos bombeiros, Max Kolbe, advogado especialista em concursos e membro da Comissão de Fiscalização de Concursos Públicos da OAB/DF, considerou a exigência desnecessária e elitista, pois beneficiaria apenas concorrentes que tiveram acesso à língua estrangeira, ainda limitado no país — em uma pesquisa de proficiência em inglês, feita pela empresa Education First em 2015, o Brasil ficou na 41a posição entre 70 países.
Sheyla Sampaio, porém, não considera que esse seja o caso do novo concurso da PM. "Não será cobrada fluência, mas sim o conhecimento a que todo cidadão com ensino médio teve acesso. O PAS e o Enem cobram esse conhecimento mínimo, e assim também será na prova do concurso", argumenta.
O edital pede a compreensão de textos em língua inglesa e itens gramaticais relevantes para a compreensão dos conteúdos semânticos. Alexandre Hartmann, professor de língua inglesa no IMP, explica que o candidato que não itens como tempos verbais, verbos modais, pronomes, numerais, algumas conjunções e preposições não terá condições de realmente ler e compreender o texto e as questões.
"Contudo, a prova da Iades (banca examinadora) é fácil. Se analisarmos as últimas provas para a PMDF, provavelmente serão duas questões acerca de um texto curto e outras duas questões acerca de uma tirinha", acredita Hartmann, para quem a cobrança da disciplina nos editais veio para ficar.
O professor dá algumas dicas para quem está estudando para o certame:
· Estudar bem os tópicos gramaticais
· Resolver as últimas provas da Iades já feitas para a PMDF
· Resolver provas de concursos presentes no site da Escola de Especialistas da Aeronáutica, tendo em vista sua semelhança com as provas da referida banca
Conselho de quem já passou
Na PM desde 2013, o soldado Carlos Cunha foi aprovado em 2017 para o Curso de Formação de Oficiais, por meio de seleção que exigia o inglês. Ele concorda com a medida. "Em Brasília, a polícia faz a segurança dos setores de embaixadas, de eventos internacionais, além de ser uma cidade que atrai vários turistas. Inclusive, durante o policiamento na Copa do Mundo, eu e um colega auxiliamos alguns turistas em inglês, que uma hora ou outra pediam informações", lembra.
Ele conta que, durante a preparação, o inglês estava em seu ciclo de estudos pelo menos uma vez por semana, mas ressalta que já tinha uma noção básica do conteúdo, por ter feito um curso básico na língua estrangeira e assistir a muitos filmes legendados. "Como conselho para quem está estudando para este concurso, indico cursos preparatórios, para ter uma orientação de como estudar", sugere.
Jaqueline Santos, 20 anos, graduada em tecnologia em jogos digitais, faz curso de inglês desde o ano passado e se sente preparada para o conteúdo da prova. Ela também aprova a cobrança da língua estrangeira. "O inglês ajuda na comunicação do policial com os turistas e imigrantes. Já que todos temos direito aos serviços policiais, o inglês ajuda a alcançar todas as pessoas", observa.
Há candidatos, porém, que preferem se dedicar a outras matérias e deixar o inglês um pouco de lado. É o caso de Antonio Carvalho, 25 anos, formado em enfermagem. "Eu não pretendo estudar, pois o edital cobra mais a compreensão de texto. Nunca fiz curso de inglês, sei apenas o básico da escola e algumas coisas que vejo no dia a dia, mas, com base em outras provas, será fácil", prevê Carvalho, que está se preparando há seis meses, dedicando de seis a oito horas por dia aos estudos.
O concurso
O concurso para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) oferece 2.024 vagas, sendo 500 imediatas para combatente (450 para homens e 50 para mulheres). As inscrições devem ser feitas pelo site da banca organizadora até 4 de abril. A taxa é de R$ 88. As provas devem ser aplicadas em 6 de maio.
Também foram abertas seis vagas para músico e 18 para corneteiro, com inscrições até 26 de março, e previsão de que as provas sejam aplicadas em 29 de abril.
O salário para ambos os certames é R$ 5.245,41, mais R$ 850 de auxílio-alimentação (soldado de primeira classe) e R$ 4.119,22 mais R$ 850 de alimentação (soldado de segunda classe).
Além das provas objetivas, o certame ainda prevê teste de aptidão física (TAF), avaliação de exames médicos, psicológicos, investigação da vida pregressa e social do candidato e, para quem se inscrever para músico, prova prática instrumental.
* Estagiário sob supervisão de Humberto Rezende