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Concurso público: mobilidade social, combate à corrupção e pão

29/06/2016 11:19 | Atualização: 29/06/2016 11:20

Wagner Oliveira - Diário de Pernambuco

Antes de começar é importante deixar claro que o concurso público não vai resolver todos os seus problemas e todos os problemas do país. Não. Um país não se constrói apenas nas costas de seu serviço público, mas também com empreendedores, engenheiros, educadores, agricultores, profissionais liberais etc. Por outro lado, o serviço público não é incompetente e os concursos não são “maracutaia”. O país também precisa de um bom serviço público, honesto, eficiente, educado, compatível com o que se espera dele e atento aos princípios constitucionais (art 37, CF). E os concursos ainda são a melhor forma de encontrar esses profissionais capacitados.

Algumas carreiras podem ser desenvolvidas no serviço público ou fora dele, como a de professor, médico, enfermeiro. Outras, por sua vez, só existem no setor público, como juiz, fiscal e policial. Então, enquanto para algumas pessoas o serviço público é uma opção, para outras é o único caminho para a realização pessoal. Esta realização não se esgota na remuneração, por mais que muitos queiram reduzir apenas a isso. Mas fazer o que se quer ou gosta, ser útil, se realizar, tudo isso também conta.

O serviço público oferece qualidade de vida, boa remuneração, estabilidade, status, aposentadoria e uma série de vantagens. Todas elas com o feito de que o servidor tenha todas as condições de cumprir bem seus deveres.

No entanto, pouco se menciona a importância dos concursos em proporcionar mobilidade e inserção sociais. Concursos não veem cor, gênero, classe social, experiência prévia, idade, opção sexual, distância... Quando alguém de uma comunidade carente consegue um bom cargo público, inúmeras repercussões acontecem: aumento da autoestima pessoal e coletiva, injeção de capital no local etc. E ainda, a cada aprovado uma família melhora de vida e centenas de outras pessoas do local percebem que é possível mudar o próprio futuro.

O concurso público não é o único modo de fazer isso, sem dúvida, mas é um dos mais eficientes. No serviço público você encontra empregados domésticos e catadores de lixo que se tornaram juízes, apenas para citar algumas das muitas histórias de sucesso de homens e mulheres que enfrentaram toda sorte de problemas e dificuldades para chegar onde chegaram. Onde mais se vê tantas oportunidades de acesso e mobilidade?

Alguém que foi criado na periferia pode ter dificuldade para ingressar nas melhores universidades, ou nos melhores empregos, mas pode realizar um concurso de nível médio, começar a ajudar sua família, investir em sua qualificação e mudar todo o seu destino.

Outro viés relevante é que no concurso público o comprometimento do servidor empossado não é com um candidato ou partido político, mas sim com sua própria história e formação, com seu próprio metro quadrado. Não existem “favores” a retribuir e isso pode ser o maior obstáculo à corrupção e ao aparelhamento do Estado. O que mais buscamos para construir um país mais justo, igualitário, repleto de oportunidades.

O concurso público é uma forma de muitos obterem o pão sem ter de enfrentar um leão por dia e, com isso, poder dedicar-se mais a família ou até a atividades diversas, como ser voluntário de um curso preparatório carente, estudar e se qualificar ainda mais, escrever, só para citar alguns exemplos.

O concurso possibilita que meninos e meninas pobres, alguns já nem tão novos, mudem de vida, de perspectivas e progridam através do estudo e do esforço, caminhando pela instigante, gratificante, honrosa e também difícil carreira pública.

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