Concurso, CorreioWeb, Brasília, DF

Gari e dona de casa têm oito filhos servidores públicos

Assim, até parece que passar em concurso público é genético!

25/05/2016 11:55 | Atualização: 25/05/2016 12:04

Lorena Pacheco

Arquivo pessoal
Ver um filho aprovado em concurso já é motivo de orgulho, mas Bartíria e Paulino Doxa superaram todas as expectativas e criaram nada menos do que oito servidores públicos. Tem filho do casal trabalhando no Ministério Público da União, Tribunal Regional Federal, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, além das secretarias de Fazenda, Educação e Saúde do DF. Só o caçula já acumula 10 nomeações. Para dar conta do feito e ainda assim manter a família sempre unida, Bartíria, que hoje tem 75 anos, conta que sempre priorizou os estudos dos filhos, apesar de ela mesma não ter tido a oportunidade de estudar.

Bartíria e o marido moravam em uma fazenda no interior de Goiás, onde se conheceram e lá tiveram os três primeiros filhos. À medida que as crianças cresciam, os pais viam a necessidade de mudar dali para assegurar um futuro melhor. “Vim para Planaltina com cerca de 28 anos, foi difícil. Mas sempre tive vontade de que meus filhos estudassem, porque isso eu não pude. Não tínhamos condições de colocá-los em colégio particular, mas sempre dávamos um jeito. Meu marido trabalhava fora, ganhava pouco, mas tinha salário todo mês. E eu cuidava dos filhos em casa e ajudava quando podia, costurando e lavando roupa para os outros”, recorda.

Apesar de ter prestado apenas um concurso na vida, para merendeira da Secretaria de Educação, e não conseguir passar, Bartíria não lamenta e afirma que o fato de ter sido sempre dona de casa fez com que ela fosse bastante presente na vida escolar dos filhos, fornecendo apoio necessário para que eles seguissem em frente. Paulino, por sua vez, iniciou a família na vida do funcionalismo. Após trabalhar na roça até os 36 anos, foi aprovado em um processo seletivo e se tornou gari no Serviço de Limpeza Urbana – SLU. Costuma dizer que tirou 10 na prova prática, que era capinar. Hoje está aposentado como operador de máquinas, após 35 anos de serviços prestados no mesmo órgão.

O incentivo aos estudos é confirmado pelos filhos. Mauro Doxa afirma que a influência dos pais foi decisiva. “Meu pai sempre disse que ‘o estudo muda a realidade social e a caneta era o maior patrimônio que poderia nos deixar’”. Segundo o caçula, que hoje é analista do MPU e já foi servidor do Superior Tribunal de Justiça, o fato de o irmão mais velho ter sido aprovado em primeiro lugar com apenas 19 anos, na Secretaria de Educação, também foi decisivo para o restante da família. “O mundo de quem estuda para concursos é bem corrido, lidamos com pessoas de todas as áreas e situações diversas, com aspectos financeiros e formações distintas. Umas das maiores dificuldades era conseguir dinheiro para estudar em cursinhos preparatórios e adquirir materiais de estudo de qualidade”, lembra.

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Já Gervani, o primogênito, também credita a escolha pelo serviço público ao pai, “o que ele podia dar para nós era educação e foi o que ele fez”. Logo após sair do Ensino Médio, ele já tentou seu primeiro concurso na antiga Fundação Educacional e já está há 25 anos como secretário escolar. “Nossa família não tem muita vocação para comércio ou ter um negócio próprio, eu mesmo não sei fazer mais nada a não ser estudar, e o jeito foi seguir o caminho do serviço público”, afirma Gervani que sempre indica concursos para os irmãos e continua estudando para um dia passar na Câmara dos Deputados.

Mas se engana quem acha a relação com o funcionalismo público da família Doxa acabou na segunda geração, a tradição da família de servidores tem tudo para continuar. Segundo o filho do meio, Paulo, que já está em seu terceiro cargo como técnico administrativo do TJDFT, e pai de um bebê de quase dois anos, o neto de Bartíria e Paulino vai receber três presentes para poder escolher qual carreira seguir mais tarde na vida: um violão, uma bola de futebol e, claro, uma caneta.

 

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