Na olimpíada dos concurseiros, Emerson Caetano de Moura, de 37 anos, é um dos que está nas primeiras posições. Já conquistou quinze medalhas, ou melhor, já passou em pelo menos 15 concursos públicos. Nascido em Minas Gerais, veio para Brasília em 1990 para se dedicar aos estudos. Obteve a primeira aprovação aos 18 anos e ao longo de mais 12 anos, exerceu sete cargos públicos.
Para conseguir tantos resultados, Emerson conta que nos primeiros 15 anos de dedicação estudava de forma continua, mas com pouca técnica. Já nos últimos tempos, dedica-se por menos horas semanais, porém com mais qualidade e eficácia. “Hoje, consigo conciliar minha vida social, familiar e profissional com resultados significativos. É o tão aclamado equilíbrio, que, sem dúvida, veio com a maturidade nos estudos e na vida”. Apesar de, atualmente, não ser servidor público, ele continua estudando de forma dedicada para ser aprovado em concurso para oficial de registro ou notário para cartório. Segundo ele, este é um sonho a ser realizado. “Passar nessa prova é uma utopia, mas que tem se tornado bem possível nos últimos tempos”, diz ele confiante.
A partir de 2008, passou a ministrar aulas em cursinhos preparatórios para concurso, como o IMP Concursos, e atuar como advogado. “Sem dúvida nenhuma, todos esses cargos permitiram-me desenvolver habilidades teóricas e práticas que nunca se consegue apenas com os estudos”, afirma. O principal conselho de Emerson é: ‘aprenda como os erros e acertos dos outros’. Segundo ele, todo concurseiro deve buscar, ao menos, conversar e, sobretudo, ouvir os mais experientes.
Outro concurseiro digno de podium é o brasiliense Aragonê Fernandes, de 36 anos, que atualmente ocupa o cargo de juiz substituto do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Ele começou a estudar ainda na adolescência e dos dez concursos que passou, chegou a assumir seis. “Durante a minha trajetória como concurseiro, fiz provas em vários lugares do Brasil e cheguei a não assumir um dos cargos que eu mais desejei, o de defensor público do Rio Grande do Sul, por ser em outro estado. Mas, hoje me sinto realizado por ter conquistado um concurso de ponta no DF”, comemora.
Leia também: À espera de concurso, Câmara dos Deputados tem mais de 400 cargos vagos
Mas para ele, a trajetória não foi fácil. Foram 16 anos de estudos até chegar ao cargo de juiz. Aragonê conta que por muitos anos, trabalhou de manhã e de tarde, dava aulas em cursinhos preparatórios para concurso durante a noite e ainda estudava de madrugada. “Eu chegava em casa, via minha família, tomava um banho, jantava e tinha que estudar. Era o único tempo que eu tinha. Dormia muito pouco”, lembra.
Ele acredita que para atingir o sucesso é necessário o equilíbrio. “Não podemos deixar de viver. O estudo é uma ferramenta, mas não poder ser a única finalidade da vida. Ele proporciona uma condição melhor, mas não quer dizer que tenha que ser um fardo”, aconselha. Segundo ele, todas as fases foram importantes para a construção de sua experiência. “Desde quando eu comecei a estudar para concursos fui construindo minha bagagem para passar em provas maiores. Hoje eu estou muito satisfeito no cargo de juiz e acho que não seria mais feliz em outro posto”.
Aos que estão em busca de um cargo mais alto e desejam usar os concursos como “escada” para subir na carreira, Aragonê diz que o segredo é dedicação e comprometimento. “Independentemente do cargo que se ocupa, demonstrar compromisso é essencial. Não se deve usar os cargos como um mero instrumento para subir na vida. Devemos valorizar e dar o melhor de nós em cada etapa”. Além disso, serenidade e inteligência emocional são fundamentais. “O estudo deve ser visto como uma ferramenta temporária para que a gente alcance objetivos perenes”.
Outro brasiliense de destaque entre os atletas concurseiros é Carlos Alfama, de 26 anos, que passou em cinco concursos públicos antes de conquistar o primeiro lugar para o posto de policial legislativo federal do Senado, cargo que ocupa atualmente. Apesar disso, ele não pretende parar por aí. “Estou satisfeito hoje, mas pretendo buscar outros concursos na área jurídica”, afirma.
Ele foi aprovado pela primeira vez ao 18 anos. Na ocasião ele tomou posse no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), local onde trabalhou por quase dois anos. Aos 20 anos foi aprovado no concurso do Ministério da Fazenda. Depois, trabalhou na Receita Federal por quase dois anos, quando foi aprovado no concurso da Procuradoria-Geral do Distrito Federal. E, em 2012, com 22 anos, foi aprovado no Senado Federal, órgão onde trabalha há quatro anos.
Para Alfama, o mais difícil é abdicar do tempo com a família e amigos para o estudo. “Antes de sair um edital eu estudava cerca de três horas por dia. Depois que o edital era publicado eu pedia férias e passava a me dedicar em tempo integral. Cheguei a estudar 10 a 12 horas por dia”, afirma. Já a grande vantagem de passar por vários concursos, para ele, é o estímulo. “Antes da primeira aprovação, tudo parece muito distante. Depois que se conquista uma vaga, você fica mais confiante”. Para ele, o conselho é simples: estude muito. “Quem deseja alcançar um objetivo precisa fazer muitas questões de provas anteriores e, principalmente, não desistir. A aprovação muitas vezes não vem de primeira, mas com persistência dá para chegar lá”.
Saiba mais: Deficit de mais de 1.000 servidores aumenta expectativa por concurso do Senado
Saiba Mais
Para o especialista Ivan Lucas de Souza Junior, a prática dos 'concurseiros atletas' pode gerar uma rotatividade de pessoal muito grande dentro das empresas. Segundo ele, isso pode ser uma desvantagem para administração pública, que perde rapidamente o servidor e, consequentemente, necessita realizar novos concursos.
Para evitar problemas, Ivan considera importante que o candidato se identifique com a carreira, mesmo que seja um concurso “trampolim” e afirma que muitas vezes o cargo anterior pode servir de experiência para a ocupação futura. "Não há nada de errado na pessoa buscar um concurso melhor, é normal e saudável buscar o progresso, porém é importante ser consciente".
Segundo ele, para as empresas existe um lado negativo e positivo. O lado negativo é perder bons servidores. Já o positivo é sempre ter “sangue novo” no órgão, pessoas com vontade de trabalhar e que não estão acomodadas. "Outro fator importante sobre essa rotatividade de profissionais é que isso pode trazer uma defasagem de pessoal no órgão, o que acarretará deficiência nos serviços prestados". Ivan pontua que uma forma de amenizar o problema é oferecer um bom plano de carreira no órgão para estimular os servidores a permanecerem nele.