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Quadrilha que fraudou concurso para delegado em Goiás também atuou no DF

Candidatos chegaram a transferir carros e até um imóvel para os aliciadores do grupo; cobrança por vaga variou de R$ 120 a R$ 395 mil

13/03/2017 16:45 | Atualização: 13/03/2017 18:23

Fernando Caixeta - Especial para o Correio

Tânia Rêgo / Agência Brasil
As investigações da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) revelaram que uma quadrilha, acusada de fraudar o concurso para delegado substitudo da Polícia Civil de Goiás, tinha um membro responsável por aliciar candidatos no Distrito Federal e no Entorno.

A denúncia que deu origem à investigação partiu de um candidato que estranhou a grande quantidade de notas bem próximas à máxima na primeira etapa do concurso e noticiou o caso à polícia e Ministério Público. Os investigadores aproveitaram a realização das provas da segunda fase, no último domingo (12/3), para efetuar as prisões dos suspeitos.
O delegado responsável pelo caso, Ándré Botezini, informou que agentes da Dercap fizeram campana no local de prova para prender os candidatos suspeitos de fraude. "Esperamos até que todos os candidatos realizassem as provas e, por volta das 19h30, no final da segunda fase, eles foram conduzidos à delegacia, dado o código de prisão em flagrante, e nesse momento eles confessaram a participação, como se deu a fraude, como era feito o pagamento a esse agenciador e como eles tinham se comportado durante todo o certame", conta Botezini.

Outro delegado da Dercap, Rômulo Figueiredo, disse que a quadrilha orientava os candidatos a entregarem o cartão de respostas em branco e, na segunda fase, responder somente aquilo que sabia. "Alguns deles passaram carros e imóveis para esses agenciadores, que sempre se utilizavam de terceiros, para não deixar qualquer rastro, seja de movimentação financeira ou mesmo de propriedade de bens. Um agenciador atuou em Goiás e outro no Distrito Federal e no Entorno de Brasília", esclarece Figueiredo.

De acordo com Rômulo Figueiredo, uma mulher chegou a pagar a quantia pela aprovação na primeira fase. "Essa candidata, que já foi identificada e presa, após a primeira fase, já tinha passado uma enorme quantia em dinheiro e não tinha mais para passar e obter informação privilegiada na segunda fase. Nesse momento, ela passou a ser extorquida pelo agenciador.Eles disseram: ou você me passa mais bens ou não vou providenciar sua aprovação na segunda fase. Em ato de desespero, ela chegou a transferir o imóvel de sua mãe ao agenciador", narra o delegado.

Os presos foram indiciados pelos crimes de falsidade ideológica e material, fraude em concurso público e organização criminosa. A Polícia Civil tem até dez dias para concluir o inquérito e encaminhar ao Poder Judiciário, que irá decidir se mantém, ou não, os suspeitos presos.
 
Não há indícios da participação de funcionários da banca organizadora, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe). "Ainda estamos investigando e certamente vamos apurar essas minúcias", afirmou Figueiredo.
 
Por meio de nota, o Cebraspe disse ao Correio que a segurança dos eventos que realiza é uma prioridade da instituição e que as medidas de controle de irregularidades em concurso são alvo de constante aperfeiçoamento. A empresa esclareceu que, caso seja constatado processo ilícito em qualquer seleção sob responsabilidade do Centro de Seleção, será aplicada penalidade cabível. O Cebraspe também informou que contribui continuamente com os órgãos de controle, a fim de garantir a legalidade de a isonomia em todos os eventos que realiza.

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