A prática vem crescendo em número de adeptos. Segundo José Raimundo Silva, representante de uma empresa de transporte especializada em levar candidatos de Brasília e Goiânia para fazer provas país afora, basta sair um edital que a viagem é certa e cheia. “Em 12 anos já levamos mais de 100 mil concurseiros para todas as capitais. A procura pelo serviço é tão alta que vem gente de outros estados às nossas sedes para depois partirmos em nova viagem aos locais de prova”.
A próxima jornada já está marcada. Dez ônibus lotados seguirão para Belo Horizonte em 26 de setembro para os exames do Tribunal Regional do Trabalho. O pacote de viagem varia de acordo com a distância a ser percorrida, neste caso o valor ficou em R$ 450 e inclui transporte, hospedagem com café da manhã (servido mais cedo, para não perder a hora da prova) e traslado para o local dos testes.
Segundo Raimundo, o estado mineiro é o destino líder de excursões, seguido por São Paulo, Mato Grosso e Paraná, e os concursos mais realizados são para tribunais. “Há muita reincidência de concurseiros viajantes que focam em uma carreira e saem viajando pelo país em busca da classificação. Tem gente que consegue cinco aprovações, mas continua tentando algo melhor até ser chamado para posse. É um trabalho gratificante, já que a aprovação dos candidatos também faz parte do nosso pagamento”.
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O especialista também acredita que a concorrência especializada de Brasília pode afugentar muitos candidatos. “Aqui existe uma cultura do concurso porque é a sede do governo federal, assim, com mais vagas, as pessoas se inscrevem mais nos processos seletivos, sem falar que temos recursos avançados em termos de preparação, como cursos especializados. Algumas cidades estão começando a mudar nesse sentido, como Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, mas Brasília ainda lidera”.
Com sete cidades percorridas no mapa da aprovação, Camila Wendt, praça da Polícia Militar que quer passar para área jurídica, concorda com o especialista. Para ela, há muito mais chance de passar fora do que dentro de Brasília. “Aqui todo mundo vive estudando, diferente da concorrência nos outros estados. No Espírito Santo, por exemplo, conversei com alguns candidatos do TRT e eles me disseram que não se preparavam para a prova. A nota de corte foi mínima, enquanto em Brasília é preciso quase gabaritar”. Depois de fazer prova no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Goiás, Alagoas e Acre, a concurseira acabou se classificando no TRT potiguar e hoje aguarda convocação para tomar posse.
No caso de Antônio Márcio Pinto, agente administrativo e concurseiro de Luziânia (GO), todos esses fatores foram decisivos para que ele optasse por concorrer em concursos de fora: foco na carreira de analista da Justiça do Trabalho, salário melhor por ser um cargo de nível superior, e fuga da concorrência disputada de Brasília. Como candidato viajante, ele já fez prova no Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Pernambuco (terra natal, que deixou para se formar em direito em Brasília). E, mesmo sem conseguir uma classificação dentro do número de vagas até agora, Antonio recomenda que o brasiliense busque sua aprovação não importa onde. “A distância não é problema, o que vale é a aprovação. No mais, como são concursos de órgãos federais, depois da posse tem como fazer permuta de servidor, basta achar alguém disposto a mudar de lotação e você volta pra casa”.
Se você está disposto a tentar, confira abaixo lista com concursos que valem a distância:
Tribunal de Justiça de Rondônia: salários até R$ 5,2 mil
TRT do Mato Grosso: salário de R$ 27 mil
Companhia de Gás do Mato Grosso do Sul: salários até R$ 6,4 mil
Conselho de Farmácia de Tocantins: salário até R$ 4,9 mil
Defensoria do Maranhão: salário de R$ 23.937,19
Companhia Docas da Paraíba: salário até R$ 6,6 mil
Corpo de Bombeiros Militar/AC: salário até R$ 3,7 mil