Candidatos que disputaram uma vaga de soldado no concurso do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) apontam semelhanças entre itens da prova de química aplicada pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional (Idecan), no último domingo (19/2), e questões disponíveis em sites da internet, como o Yahoo Respostas. O fato provocou grande repercussão nas redes sociais e pode acarretar a anulação do teste.
Algumas postagens afirmam que a banca organizadora do concurso copiou cerca de 70% dos itens de química de sites na internet. Das 10 questões da prova da disciplina, os candidatos apontam que sete foram copiadas de sites conhecidos, como Yahoo Resposta, PasseiDireto, Infoescola e outros. Nenhuma das questões acima fazia referência às suas respectivas fontes, e todas mostram a resposta da questão, o que nos leva a identificar um plágio e imprudência referente à isonomia dos candidatos”, diz uma das mensagens que circulam na rede. “Observe que as questões são copiadas ipsis litteris (sem mudar nada), não sendo indicada a fonte da qual foi retirada a questão, ou seja, ocorrendo conduta antiética e retirando do candidato a isonomia, além de quebrar o sigilo das questões da prova”, acrescenta o texto, que junta imagens e links para os sites mencionados.
Especialista em concursos públicos, o advogado Max Kolbe afirma que, se ficar demonstrado que questões foram plagiadas, a prova deve ser anulada e aplicado um novo teste. Ele manifesta ainda preocupação em relação ao concurso da Polícia Militar do Distrito Federal, também a cargo do Idecan. “Levando em consideração o interesse público e o princípio de eficiência, a banca organizadora, por incidir pela segunda vez consecutiva em erro prejudicial à coletividade, deverá ser substituída, com aplicação de multa à própria, devendo esta ser impedida, inclusive, de realizar o concurso da PM”, argumentou.
Apesar de lamentar a possibilidade de anulação da prova, o estudante de engenharia civil Perckison Lincoln do Nascimento, 22 anos, que vem estudando desde 2013 para o certame, faz parte de um grupo de candidatos que pretende exigir a investigação das denúncias. “É uma falta de respeito com os candidatos. Se for comprovado que teve plágio, espero que os órgãos competentes anulem a prova e outra banca assuma o concurso”, afirma.
Fernando Modesto, advogado especialista em direito administrativo, afirmou que pode haver plágio mesmo quando a sentença é reescrita de forma diferente, mas com ideia idêntica. “A questão pode ter sido parafraseada, mas é muito complicado comprovar isso, até porque é uma análise muito subjetiva”, ressalvou. Ele acredita que a prova e as questões não deveriam ser canceladas devido a indícios. “As pessoas que não estudaram por essas questões talvez tenham sido prejudicadas. Mas é complicado provar e anular o item”, disse.
Saiba Mais
Em nota, o Idecan informou que, “de acordo com o item 15.2 do edital, o candidato que desejar interpor recurso em relação às questões das provas objetivas disporá de 10 dias úteis para fazê-lo, a contar do dia subsequente à data da divulgação dos gabaritos, através de sistema próprio no site do Idecan”. “Após esse período, o Idecan analisará todos os recursos e tomará as providências cabíveis para que não haja prejuízos a nenhum dos candidatos inscritos. Este é um procedimento habitual em todos os processos realizados pelo Idecan, para garantir a lisura e isonomia dos certames”, acrescenta a nota.
No último dia 14, o Idecan anulou, a pedido do Corpo de Bombeiros a prova do concurso para o cargo de oficial, depois de o deputado distrital Reginaldo Veras (PDT) apontar irregularidades que “violaram preceitos legais e constitucionais” ao Tribunal de Contas do DF.
* Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo