A falta de reajustes salariais e a redução de benefícios são os principais motivos alegados por servidores públicos para dirigir carros vinculados a aplicativos de transporte individual remunerado, como Uber, Cabify e 99 Pop. Usar o tempo livre em busca de renda extra é a estratégia para fazer frente às despesas domésticas, com a vantagem de não ter jornada obrigatória, nem contrato formal.
Os aplicativos ampliaram as oportunidades. Para se inscrever, não é preciso ter experiência, basta fazer um cadastro pela internet e ter carteira de habilitação em situação regular. Quando Silva chegou a Brasília, os aplicativos acenavam com renda mensal mínima de R$ 6 mil. “Era mais fácil, com certeza. Mas a procura aumentou e a tarifa por quilômetro rodado baixou de R$ 1,60 para R$ 1,25”, reclama.
Outro servidor, analista do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que preferiu o anonimato, desistiu do trabalho. “Achei que tiraria R$ 10 mil por mês. Mas não chegou a R$ 5 mil”, afirmou. Já um funcionário de uma empresa estatal se cadastrou em três aplicativos. “O primeiro que chama, eu vou”, diz. Isso porque há longas filas de espera em locais estratégicos, como aeroportos e hotéis.
Não há estatísticas sobre servidores que aderiram ao novo tipo de trabalho extra. “Quem se inscreve não tem que revelar a profissão. Há um desconto de 25% da viagem no Uber X, e de 20% no Black. O restante do dinheiro cai diretamente na conta do motorista”, explica a assessoria da empresa. De acordo com o Ministério do Planejamento, “a legislação brasileira só veda a acumulação remunerada de cargos e empregos públicos”, com exceções para professores e profissionais de saúde. “Fora do horário de trabalho, não há impedimento para a prestação de serviços no Uber ou Cabify”, assinala o órgão.
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Fisco
As classes com maiores salários e dedicação exclusiva ao Estado também não estão totalmente satisfeitas. “A qualidade de vida despencou. Os colegas dizem que, antes, entravam em consórcios de carro de luxo. Qualquer dia, até os populares estarão proibitivos”, diz um servidor.
O funcionário que recebe renda extra não pode esquecer do Leão, já que os aplicativos não descontam o Imposto de Renda. “Caso a Receita Federal verifique que a movimentação financeira é superior ao que o cidadão declara, ele pode cair na malha e ficar sujeito à cobrança de multa de 25% a 150% do valor devido”, explica Waltoedson Dourado, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Distrito Federal (Sindifisco-DF).