Ser ou não ser servidor temporário? Eis a questão. Quem estuda para concursos sabe que o atrativo principal da carreira pública é a estabilidade financeira. No caso das vagas com contratos temporários, contudo, essa estabilidade tem data marcada para acabar. Tiago Pugsley, professor de direito penal e coordenador jurídico do cursinho preparatório IMP, acredita que a classificação nessas seleções deve ser vista apenas como um alívio imediato na dura busca por uma vaga efetiva. Já quem vive a realidade de ser temporário pondera os pontos positivos e negativos. “Eu nunca quis me acomodar no cargo. Quando entrei sabia que aproveitaria a oportunidade, mas que em algum momento teria que ir além”, conta Lucas Nóbrega, de 28 anos, servidor público temporário.
O contrato de Lucas acaba em maio deste ano, quando completa quatro anos no posto de psicólogo da Secretaria de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde. “A vaga tem muito a ver com meus interesses profissionais, então foi uma ótima oportunidade independentemente do tempo que fiquei”, conta. Com o desemprego à vista, ele pondera começar um mestrado, trabalhar em consultório próprio e, quem sabe, voltar para o campo da saúde indígena.
Para Lucas, o ônus de contratar servidores temporários fica para o próprio órgão. “Você tem gente trabalhando e ganhando experiência, mas ela terá que sair. Ou seja, eles investem na carreira, no profissional e depois tem que descartá-lo. O melhor é fazer concurso para efetivos”, acredita. Rafael Pereira, de 31 anos, também aponta desvantagens tanto para a Administração quanto para o servidor temporário. Ele deixou um cargo público efetivo no Espírito Santo, onde ganhava menos, para atuar por dois anos e meio como coordenador do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça. “Você mobiliza muita energia sabendo que tem prazo para acabar, o que é bastante difícil de encarar. Da metade do contrato para frente, começamos a pensar em uma porta de saída” lembra.
Rafael conta que, como gestor, viu as desvantagens de perto. “O contrato de várias pessoas da minha equipe estava acabando. O profissional vai ficando desmotivado, sem perspectiva e isso é um grande complicador para gestão de pessoas”, analisa. Além disso, alguns benefícios oferecidos para servidores efetivos nem sempre contemplam os temporários. Durante a estadia no Ministério da Justiça, Rafael lembra que não pôde participar de uma campanha gratuita de vacinação contra a gripe, já que era exclusiva ao quadro de pessoal permanente. “Enquanto isso, as responsabilidades e a pressão sob os dois tipos de servidores são iguais. Não faria certame para temporário de novo”, avalia.
Saiba Mais
O especialista Tiago Pugsley destaca que a oportunidade pode ser positiva se o candidato tiver condições de manter os estudos em paralelo com o novo trabalho. “Se a pessoa passa em um concurso temporário e para de estudar por falta de tempo ou se acomoda, quando o contrato acabar ele vai voltar para a estaca zero”, alerta. Ele acredita que o nível de dificuldade dos certames para cargos temporários é mediano, mas avalia que, ainda assim, os candidatos devem estar bem preparados. “Não é qualquer um que passa”, reforça.
Vagas abertas
Atualmente, o Ministério da Justiça abriu processo seletivo simplificado, com 14 vagas temporárias. Os aprovados vão desenvolver atividades inerentes ao gerenciamento do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas (Sinesp).
Podem concorrer ao cargo de gerente de projetos em tecnologia da informação candidatos com nível superior em informática/computação (ou em qualquer curso, mas com pós-graduação na área), além de experiência superior a cinco anos em funções de coordenação de projetos e/ou coordenação de projetos em ambientes ou linguagem de software livre; ou ainda quem tiver título de mestrado ou doutorado na área.
O salário é de R$ 8.300, para uma jornada de 40 horas semanais. Do total de cargos, 10 são para ampla concorrência, três são reservado para negros, e um para deficientes.
Os contratos terão validade de um ano, com possibilidade de prorrogação por até cinco anos. As inscrições custam R$ 70 e podem ser feitas pelo site ww3.funcab.org, até 22 de fevereiro.
Haverá prova objetiva no dia 29 de março, sobre língua portuguesa, noções de direito administrativo, legislação e ética na Administração Pública, e conhecimentos específicos. A seleção conta ainda com prova de títulos e sindicância de vida pregressa. Todos os exames serão de responsabilidade da Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt (Funcab) e realizados em Brasília.